sexta-feira, 31 de março de 2017

A Verdadeira Infelicidade


Delphine de Girardin - Paris, 1861

24 - Todos falam da infelicidade, já a sentiram algumas vezes e acreditam conhecer seus vários aspectos. Eu venho dizer que a maioria se engana e que a verdadeira infelicidade não é aquilo que os homens imaginam. Eles veem a infelicidade na miséria, na lareira sem fogo, no credor exigente, no berço vazio da criança que sorria, nas lágrimas, no caixão que se acompanha com o coração partido, na angústia da traição e em várias outras coisas. A infelicidade é sentida também pelo orgulhoso que gostaria de esconder sua nudez vestindo-se de ouro, mas que pelo orgulhoso que apenas consegue escondê-la com os trapos da vaidade. Na linguagem humana, todas essas coisas e muitas outras chamamos de infelicidade. Sim, são infelicidades para aqueles que veem apenas o presente. Mas a verdadeira infelicidade está mais nas consequências de um fato do que no próprio fato em si.

Um acontecimento feliz, que depois trará consequências desastrosas, é pior do que um acontecimento que inicialmente, causa um grande desgosto, mas que depois acaba produzindo um bem. A tempestade que purifica a atmosfera, dissipando as energias que causariam doenças, é antes uma felicidade do que um infortúnio.

Para julgar um fato, é preciso ver suas consequências. Para entender o que realmente é felicidade ou desgraça para o homem, é preciso se transportar para além desta vida, pois é lá que as consequências se manifestam. Tudo o que consideram infelicidade, segundo a visão limitada que possuem, cessa com a morte do corpo e encontra sua compensação na vida futura.

Vou revelar a infelicidade sob um novo aspecto, sob a forma bela e florida que desejam, com todas as forças de suas almas iludidas. A infelicidade é essa alegria falsa, esse prazer egoísta, a fama enganadora, a agitação fútil, a louca satisfação da vaidade que faz calar a consciência. Ela perturba a ação do pensamento e confunde o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade se manifesta quando esquecemos nossa missão na Terra e a substituímos pelos prazeres passageiros.

Tenham esperanças aqueles que choram! Acautelem-se aqueles que riem, pois seus corpos estão satisfeitos! Ninguém transgride impunemente as Leis de Deus, ninguém foge às responsabilidades de seus atos. As dificuldades que enfrentam hoje têm sua causa nos erros que cometeram em existências anteriores. São eles que fazem com que vocês sintam a agonia da verdadeira infelicidade. Aquele que trata as coisas espirituais com indiferença e que possui muito apego pelas coisas materiais mostra ser uma pessoa egoísta.

Que o Espiritismo possa esclarecer a todos, colocando no lugar correto a verdade e o erro, tão deturpados pela cegueira que carregam! Então, façam como o bravo soldado que, em vez de fugir do perigo, prefere lutar em combates arriscados, deixando de lado a paz do acampamento que não lhe trará nem glórias nem promoções.

O que importa ao soldado perder, durante a luta, suas armas e sua farda, desde que saia vencedor e com glórias? O que importa, para aquele que tem fé no futuro, deixar, no campo de batalha da vida, sua fortuna e seu corpo físico, contanto que sua alma entre gloriosa no Reino dos Céus?





O Evangelho Segundo o Espiritismo | Allan Kardec | Por Claudio Damasceno Ferreira Junior Capítulo 5 | Página 88 | Bem-Aventurados Os Aflitos

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