domingo, 18 de dezembro de 2022

A Fé Que Transporta Montanhas

CAPÍTULO XIX

A Fé Que Transporta Montanhas

• O Poder da Fé •  A Fé Religiosa - Condições da Fé Inabalável
 • Parábola da Figueira que Secou 

Instruções Dos Espíritos:

• A Fé, Mãe da Esperança e da Caridade
• A Fé Divina e a Fé Humana



O Poder da Fé

1. Quando Jesus veio ao encontro do povo, um homem aproximou-se Dele, ajoelhou-se a Seus pés e disse: "Senhor, tenha piedade de meu filho que está lunático e sofre muito, pois ele, seguidamente, cai, ora no fogo, ora na água. Apresentei meu filho aos Seus discípulos, mas eles não puderam curá-lo.". Jesus respondeu ao pai do menino, dizendo: "Ó, raça incrédula e perversa! Até quando estarei com vocês? Até quando sofrerei com vocês? Traga o menino até aqui.". E Jesus, repreendendo o Espírito mau que o acompanhava, fez com que este se afastasse, curando-o no mesmo instante. Então, os discípulos vieram encontrar Jesus e, em particular, Lhe perguntaram: "Por que nós não conseguimos expulsar este demônio?". E Jesus respondeu: "É por causa da pouca fé que possuem. Pois Eu digo, em verdade, que, se tivessem fé do tamanho de um grão de mostarda, diriam a essa montanha: Transporte-se daqui para lá, e ela se transportaria, e nada seria impossível a vocês." (Mateus, 17:14 a 19).

2. A confiança do homem em sua próprias forças faz com que ele seja capaz de realizar coisas materiais que não pode fazer quando duvida de si mesmo. Porém, nesse caso, devemos entender as palavras de Jesus unicamente pelo seu sentido moral. As montanhas que a fé transporta são as dificuldades, as resistências, a má vontade dos homens, mesmo quando tudo está correndo bem. Os preconceitos, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo, as paixões orgulhosas, são, também, montanhas que travam o caminho de todo aquele que trabalha pelo progresso da Humanidade. A fé, quando forte, fornece a perseverança, a energia e os recursos necessários para vencer os obstáculos, sejam eles pequenos sejam grandes. A fé que vacila provoca em nós a falta de confiança de que se aproveitam os adversários que devemos combater; e, mais ainda, a fé que vacila não procura os meios de vencer, pois nem sequer acredita na possibilidade da vitória.

3. A fé também pode ser considerada como sendo a confiança que se tem na realização de uma determinada tarefa, na certeza de atingir um objetivo. A fé dá uma espécie de lucidez, que faz com que se possa antever, pelo pensamento, a meta a ser alcançada e os meios de chegar até ela. Assim, aquele que a possui caminha com absoluta segurança. Em todos os sentidos, a fé é sempre a responsável pela realização das grandes obras.

A fé sincera e verdadeira é sempre calma, pois confere a paciência que sabe esperar e, também, porque, ao apoiar-se na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de atingir seu objetivo. A fé vacilante conhece sua própria fraqueza; quando é estimulada pelo interesse, torna-se furiosa e acredita suprir, pela violência, a força que lhe falta. A calma durante a luta é sempre um sinal de força e de confiança. A violência é sempre um sinal de fraqueza e descrença em si mesmo.

4. É preciso não confundir a fé com a soberba. A fé verdadeira é uma aliada da Humildade, e aquele que a possui confia mais em Deus do que em si próprio. Quem possui a fé verdadeira sabe que é um simples instrumento da vontade de Deus e que nada pode sem Ele, e é por isso que os bons Espíritos vêm em seu auxílio. A soberba é muito mais um sinal de orgulho do que fé; o orgulho, mais cedo ou mais tarde, é sempre castigado pela decepção e pelos fracassos que lhe são impostos.

5. O poder da fé tem aplicação direta e especial na ação magnética. É pelo pensamento que o homem atua sobre o fluído que está livre no universo, modifica-lhe as qualidades e dá a esse fluído um impulso irresistível. Aquele que já possui um grande poder sobre os fluídos e junta a esse poder uma fé ardente, podem simplesmente pela vontade dirigida ao bem, realizar fenômenos especiais de cura e muitos outros. Antigamente, esses fenômenos eram tidos como milagres, mas, na verdade, eles não passam de consequências da aplicação de uma Lei Natural. Esse é o motivo pelo qual Jesus disse a Seus apóstolos: "Se vocês não o curaram, é porque não tiveram fé.".


A Fé Religiosa - Condições da Fé Inabalável

6. Do ponto de vista religioso, a fé é a crença nos dogmas particulares que constituem as diferentes religiões. Todas as religiões têm seus artigos de fé, ou seja, a descrição do que os seguidores devem ou não acreditar. Sob esse aspecto, a fé pode ser raciocinada ou cega. A fé cega não examina nada, aceita tudo sem verificar, tanto o que é falso quanto o que é verdadeiro, e, a cada passo, se choca com as evidências e a razão. A fé cega, levada ao excesso, produz o fanatismo. Quando a fé está apoiada no erro, cedo ou tarde desmorona. Somente a fé que tem por base a verdade possui um futuro assegurado, pois nada tem a temer com o progresso dos conhecimentos. O que é verdadeiro na sombra, também o é à luz do dia. Toda religião pretende ter a posse exclusiva da verdade, mas impor a alguém a fé cega sobre uma questão de crença é confessar sua impotência para demonstrar que está com a razão.

7. Geralmente, se diz que a não se receita, não se impõe, o que leva muitas pessoas a dizerem que não são culpadas pelo fato de não a possuírem. Sem dúvida, a fé não se receita, e o que é mais correto ainda: a fé não se impõe. A fé deve ser adquirida e ninguém está impedido de possuí-la, nem mesmo aqueles que tenham contra ela muita resistência. Falamos de verdades espirituais básicas, e não dessa ou daquela crença em particular. Não é a fé que deve procurar essas pessoas; elas é que devem procurar a fé, e se o fizerem com sinceridade irão encontrá-la. Fiquem certos de que aqueles que dizem: "Nada mais desejamos do que crer, mas infelizmente não conseguimos.", o dizem com os lábios e não com o coração, pois, ao mesmo tempo que dizem, fecham os ouvidos. São muitas as provas de que a fé existe, mas é o medo de serem forçadas a mudarem seus hábitos. Porém, na grande maioria, é o orgulho que se nega a reconhecer um poder superior, porque teriam que se inclinar diante dele.

Para algumas pessoas, a fé parece ter nascido com elas, pois basta uma faísca para desenvolvê-la. Essa facilidade em aceitar as verdades espirituais é sinal evidente de um progresso anterior. Em outras, ao contrário, as verdades espirituais são assimiladas com muita dificuldade, sinal também evidente de uma natureza em atraso. Aqueles que já possuíam conhecimentos espirituais trazem ao renascer, a intuição do que sabiam. Nesse caso, sua educação já foi realizada. Naqueles que não possuem conhecimentos espirituais e que precisam aprender tudo, a educação está por se realizar. Se ela não for concluída nessa existência, certamente, será na outra.

A resistência daquele que não crê quase sempre se deve à maneira pela qual as coisas lhe são apresentadas. A fé necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo em que se deve acreditar. Para acreditar, não basta ver, é preciso compreender. A fé cega não pertence mais aos dias de hoje. É justamente o dogma da fé cega que, atualmente, produz o maior número de incrédulos, pois ela quer se impor exigindo que o homem abra mão do seu raciocínio e do seu livre-arbítrio, que são as maiores conquistas do Espírito. É, principalmente, contra a cega que o incrédulo se revolta, o que prova ser verdade que esse tipo de fé não se impõe. Ao não admitir provas, a fé cega deixa, no Espírito, um vazio que lhe abre o caminho para a dúvida. A fé raciocinada é aquela que se apoia nos fatos e na lógica, é clara e não deixa atrás de si nenhuma dúvida. Acredita-se porque se tem certeza, e só se tem certeza porque se compreende. Eis por que ela não se dobra. Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da Humanidade. Assim, o Espiritismo triunfa sobre a incredulidade, sempre que não encontra oposição sistemática e interesseira. 


Parábola Da Figueira Que Secou

8. Quando saíram de Betânia, Jesus teve fome e, vendo uma figueira ao longe, foi até ela, para ver se encontrava algum fruto para comer. Ao se aproximar, encontrou apenas folhas, pois não era época de figos. Então, Jesus disse à figueira: "Que ninguém como de você nenhum fruto.", e os discípulos ouviram. No dia seguinte, ao passarem pela figueira, perceberam que ela estava seca até a raiz. Pedro, lembrando-se das palavras de Jesus, disse-Lhe: "Mestre, olha como a figueira, que o Senhor amaldiçoou, tornou-se seca." E Jesus respondeu: "Tenham fé em Deus. Em verdade, Eu lhes digo que todo aquele que disser a esta montanha "Saia daqui e vá para o mar, sem que seu coração hesite, acreditando firmemente no que está dizendo, verá, de fato, sua ordem se cumprir." (Marcos, 11:12 a 14, 20 a 23).

9. A figueira que secou é o símbolo das pessoas que apenas aparentam fazer o bem, mas que, na verdade, não produzem nada de bom. São os oradores que possuem mais brilho do que conhecimento, cujas palavras não têm profundidade e apenas agradam aos ouvidos, mas que, ao serem analisadas, não trazem nada de proveitoso ao coração. Pode-se, então, perguntar: que proveito elas trouxeram a quem as ouviu?

A figueira que secou é, também, o símbolo de todas as pessoas que têm a oportunidade de serem úteis, mas não o são. Representa, ainda, todas as utopias, todos os sistemas sem conteúdo e todas as doutrinas sem base sólida. O que falta, na maioria das vezes, é a fé que transporta montanhas. São árvores que têm folhas, mas não têm frutos. Foi por isso que Jesus as condenou à esterilidade, pois chegará o dia em que elas ficarão secas até a raiz. Todos os sistemas, todas as doutrinas que não produzem nenhum bem para a Humanidade, serão reduzidos ao nada. Todos os homens voluntariamente inúteis, que não utilizam seus recursos, também serão tratados como a figueira que secou.

10. Os médiuns são os intérpretes dos Espíritos. Por possuírem faculdades específicas para essa atividade, eles emprestam seu corpo físico para que os Espíritos possam transmitir suas instruções. Nos tempos atuais, de renovação social, os médiuns têm uma missão particular: são árvores que devem dar alimento espiritual aos seus irmão. Eles são muitos para que o alimento seja farto. São encontrados em todos os países, em todas as classes sociais, entre ricos e pobres, entre grandes e pequenos. Eles precisam estar em todos os lugares, a fim de que todos recebam os ensinamentos e para mostrar aos homens que todos estão sendo chamados. O objetivo principal da mediunidade é ajudar o próximo e melhorar aquele que a possui. Porém, existem médiuns que a utilizam para coisas fúteis, para prejudicar outras pessoas, para conseguir benefícios materiais em proveito próprio, enfim, deturpam-na de várias maneiras. Esses médiuns serão tratados como a figueira que secou. Deus retirará deles um dom que se tornou inútil em suas mãos, uma semente que não souberam fazer frutificar, e é assim que eles se tornarão alvo dos maus Espíritos.


Instruções Dos Espíritos:

A Fé, Mãe Da Esperança E Da Caridade
José, Espírito Protetor - Bordeaux, 1862.
 
11. A fé, para ser proveitosa, deve ser ativa, não deve ficar adormecida. A fé é a mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus e deve estar sempre atenta para que essas virtudes se desenvolvam.

A esperança e a caridade são as consequências da fé. Essas três virtudes formam um trio inseparável. Não é a fé que dá a esperança de se ver cumprir as promessas do Senhor? Pois, se não há fé, que esperança ter? Não é a fé que dá o amor? E se não há fé, que amor se pode ter? E que amor será esse?

A fé é a divina inspiração de Deus, que desperta todos os nobres sentimentos que conduzem o homem para a prática do bem, tornando-se a base de sua renovação. Porém, é necessários que essa base seja forte e durável, pois se alguma dúvida abalar esse alicerce, o que será do edifício construído sobre ele? Construam esse edifício sobre fundações sólidas, e que a fé de vocês seja mais forte que a zombaria dos incrédulos, pois a fé que não encara a zombaria dos homens não é a fé verdadeira.

A fé sincera é atraente, contagiante e envolve até mesmo aqueles que não a possuem, como também aqueles que não fazem questão de possuí-la. A fé sincera encontra as palavras harmoniosas, deixa aqueles que as escutam frios e indiferentes. Preguem pelo exemplo das boas obras, para que eles vejam o mérito da fé. Preguem através da esperança inabalável, para que os homens percebam a confiança que frutifica e ainda estimula a enfrentar as contrariedades da vida.

Tenham, portanto, a verdadeira fé, na plenitude da sua beleza, da sua bondade, da sua pureza e da sua racionalidade. Não aceitem a fé sem comprovação, pois ela é a filha cega da ignorância. Amem a Deus, mais saibam por que O amam. Acreditem em Suas promessas, mas saibam por que acreditam nelas. Sigam os nossos conselhos, mas sejam conscientes do objetivo que apontamos e dos meios que indicamos para atingi-los. Acreditem e esperem, sem nunca fraquejar, pois os milagres são produzidos pela fé.


A Fé Divina E A Fé Humana
U Espírito Protetor - Paris, 1863.
 
12. A fé é um sentimento que nasce com o homem sobre o seu destino futuro. É a consciência das imensas faculdades que ele possui e que estão, como uma semente, adormecidas no seu íntimo. Cabe ao homem, pela ação da sua vontade, fazer desabrochar e crescer essas faculdades, ao longo do tempo.

Até hoje, a fé é a mais compreendida pelo seu aspecto religioso. Isso acontece porque as pessoas não entenderam o verdadeiro caráter da missão de Cristo, considerando-O apenas como um chefe de religião, capaz de operar milagres através da fé. Porém, esse não é o único objetivo da fé na vida do homem; ela também reflete a confiança que se tem na possibilidade de se realizar alguma coisa.

O Cristo realizou verdadeiros milagres, demonstrando, com eles, o que pode o homem quando possui fé, ou seja, quando tem a vontade de querer e a certeza de que com esta vontade pode realizar muitas coisas. Os apóstolos, tal como Ele, também não realizaram milagres? Os milagres nada maus são do que a ocorrência de fenômenos naturais, que se operam mediante a vontade de quem quer que seja, desde que possua uma fé ardente, sincera e verdadeira. As causas desses efeitos naturais eram desconhecidas pelos homens daquela época. Hoje são, em grande parte, explicados e compreendidos pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo.

A fé pode ser humana, se o homem aplicar suas faculdades na realização de coisas materiais, ou pode ser Divina, quando ele, pensando em seu futuro, usar essas faculdades para seu aperfeiçoamento espiritual. O homem inteligente, que se lança na realização de um grande empreendimento, triunfa se tem fé. Ele sente, em si mesmo, que pode e deve atingir seu objetivo, e é justamente essa certeza íntima que lhe dá uma força extraordinária. O homem de bem, que acredita na continuação da vida após a morte e deseja preencher sua existência com nobres e belas ações, retira de sua fé e da certeza na felicidade que o aguarda, a força necessária para realizar os milagres da caridade, do devotamento e do desapego. Com a fé não existem tendências más que não possam ser vencidas.

O magnetismo, quando colocado em ação, é uma das maiores provas do poder que a fé possui. É pela fé que o Magnetismo cura e produz fenômenos especiais que, antigamente, eram qualificados como milagres.

Repito: A fé é humana e Divina. Se todos os encarnados tivessem consciência da força que trazem consigo, e se quisessem colocar sua vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o que até agora chamamos de prodígios, mas que não passam do desenvolvimento das faculdades humanas.


Comentário

1. Lunático - Essa expressão era muito usada, na época de Jesus, referindo-se às pessoas que sofriam de obsessões ou problemas mentais.
 

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