segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Amar O Próximo Como A Si Mesmo


CAPÍTULO XI

Amar O Próximo Como A Si Mesmo

• Mandamento Maior 
•  Parábola Dos Credores E Dos Devedores
• Fazer Aos Outros O Que Gostaríamos Que Os Outros Fizessem Por Nós
• Dar A César O Que É De César


Instruções Dos Espíritos:
• A Lei Do Amor • O Egoísmo
• A Fé E A Caridade • Caridade Para Com Os Criminosos • Devemos Arriscar Nossa Vida Por Um Malfeitor?


O Mandamento Maior

1. Os fariseus, quando souberam que Jesus havia feito os saduceus se calarem, reuniram-se em conselho, e um deles, que era doutor da Lei, perguntou-Lhe, para tentá-Lo: "Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?". E Jesus lhe respondeu: "Amar a Deus, de todo o seu coração, de toda sua alma e com todo seu entendimento. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a esse, é: Amar o próximo como a si mesmo. Esses dois mandamentos contêm toda a Lei e os Profetas" (Mateus, 22:34 a 40).

2. "Façam aos homens tudo o que gostaria que eles fizessem para vocês, pois esta é a Lei e os Profetas" (Mateus, 7:12).
"Tratem todos os homens da mesma maneira que gostaria de ser tratados" (Lucas, 6:31).

Parábola dos Credores e dos Devedores

3. "O Reino dos Céus é comparável a um rei que quis ajustar contas com seus servidores. E, tendo começado a fazê-lo, apresentaram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Mas como ele não tinha condições de pagar, o rei ordenou que ele vendesse sua mulher, seus filhos e tudo o que possuía para liquidar sua dívida. O servidor, atirando-se aos pés do rei, suplicou-lhe dizendo: Senhor, tenha um pouco de paciência e eu lhe pagarei tudo. Então, o rei, compadecido por aquele servidor deixou-o ir e perdoou-lhe a dívida. Mas esse servidor, mal tendo saído, encontrou um de seus companheiros que lhe devia cem moedas. Agarrou-o pelo pescoço e, sufocando-o, disse: Você vai me pagar agora o que me deve. E seu companheiro, atirando-se aos seus pés, suplicou-lhe dizendo: Tenha um pouco de paciência e eu lhe pagarei tudo; mas ele não quis escutá-lo e, retirando-se, mandou prendê-lo até que pagasse o que devia. Os outros servidores, seus companheiros, vendo o que se passava, ficaram extremamente aflitos e foram avisar o rei sobre o que tinha acontecido. O rei mandou buscá-lo e disse: Mau servidor, perdoei-lhe tudo o que me devia, pois assim me pediu. Não deveria, então, ter tido piedade do seu companheiro como eu tive de você? E o rei, furioso, entregou-o aos carrascos até que ele pagasse tudo o que lhe devia."

"É assim que Meu Pai, que está no Céu, irá tratá-los, se não perdoarem, do fundo do coração, as faltas que são cometidas contra vocês" (Mateus, 18:23 a 35).

Fazer aos Outros o que Gostaríamos que os Outros Fizessem por Nós

4. Amar o próximo como a si mesmo, fazer aos outros o que gostaríamos que os outros fizessem por nós, é a expressão mais completa da caridade, pois resume todos os deveres do homem para com o próximo. Não podemos encontrar guia mais seguro do que adotar, como regra, fazer aos outros o que desejamos para nós. Com que direito exigiremos de nossos semelhantes bom procedimento, compaixão, bondade e dedicação, se não lhes oferecemos o mesmo? A prática desses ensinamentos morais leva à destruição do egoísmo. Quando os homens adotarem esses princípios como regra de conduta e como base para suas instituições, compreenderão a verdadeira fraternidade e reinará entre eles a paz e a justiça. Não haverá mais ódios nem desavenças, somente união, concórdia e amabilidade mútua.

Dar a César o que é de César

5. Os fariseus, ao se retiraram, combinaram, entre si, comprometer, Jesus em Suas palavras. Enviaram seus discípulos em companhia do herodianos, para Lhe perguntar: "Mestre, sabemos que o Senhor é verdadeiro, e que ensina o caminho de Deus de acordo com a verdade, sem descriminar a quem quer que seja; diga-nos, então, qual s Sua opinião sobre este assunto: Devemos ou não pagar o tributo a César" - disseram. Então Jesus respondeu: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Ao ouvirem a resposta, admiraram-se com ela, e, deixando Jesus, se retiraram (Mateus, 22:15 a 22; Marcos, 12:13 a 17).

6. A pergunta feita a Jesus era motivada pelo horror que os judeus tinham em relação ao pagamento dos impostos que os romanos lhes impunham, e eles haviam feito disso uma questão religiosa. Um numeroso partido havia se formado para lutar contra o imposto. Portanto, o pagamento do tributo era, para eles, uma irritante questão da atualidade, sem o que a pergunta feita a Jesus, "devemos ou não pagar o tributo a César?", não teria o menor sentido. A pergunta em si já era uma armadilha, e, conforme a resposta dada por Jesus, pretendam jogá-lo contra a autoridade romana ou contra os judeus dissidentes. Mas Jesus, conhecendo-lhes a malícia, contorna a dificuldade dando a eles uma lição de justiça, mandando dar a cada um o que lhe é de direito (ver na introdução: Publicanos). 

7. O ensinamento: Dar a César o que é de César deve ser entendido de uma maneira mais abrangente. Significa o cumprimento dos deveres em relação à família, à sociedade, à autoridade, bem como a todos os indivíduos, respeitando as Leis vigentes e sendo cidadãos responsáveis. Dar a Deus o que é de Deus significa cultivar os valores espirituais, amando o próximo e praticando a caridade, pois esses são comportamentos indispensáveis ao nosso crescimento moral e espiritual. Esse ensinamento é consequência daquele que manda agir para com os outros assim como gostaríamos que os outros agissem para conosco. Assim, Jesus condena todo prejuízo material e moral que possa causar dano e violar os interesses do próximo. Determina que respeitem os direitos de cada um, como cada um gostaria que os seus fossem respeitados.

Instruções dos Espíritos
A Lei do Amor
Lázaro - Paris, 1862

8. O amor resume, de forma completa, toda a Doutrina de Jesus, porque é o sentimento mais elevado e sublime que existe. Os sentimentos são os instintos que vão se aprimorando à medida que o Espírito vai evoluindo. Nas primeiras encarnações, o homem possui somente instintos. À medida que avança e aumenta o convívio com outros homens, passa a possuir sensações, e, quando se encontra mais instruído e purificado, adquire, então, sentimentos. O sentimento mais nobre e evoluída de todos é o amor. Não o amor no sentido vulgar da palavra, mas sim da alma humana. A Lei do Amor substitui o individualismo pela integração das criaturas e acaba com as misérias sociais. Feliz daquele que, no decorrer de sua vida, ama, amplamente, seus irmãos em sofrimento! Feliz daquele que ama, pois não sofre as angústias da alma, nem as do corpo. Seus pés são leves e ele vive como se estivesse transportado para fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou a divina palavra Amor, os povos se emocionaram, pois, através dos Seus ensinamentos, eles compreenderam que ninguém morre e a vida continua. Assim, os mártires, com fé e cheios de esperança na vida futura, desciam aos circos onde seriam devorados pelas feras, com a certeza de que que, mesmo morrendo o corpo físico, o Espírito continuaria vivendo.

O Espiritismo vem pronunciar uma segunda palavra do alfabeto Divino. Fiquem atentos, pois essa palavra levanta a laje das sepulturas vazias: é a Reencarnação, que, triunfando sobre a more, revela ao homem, deslumbrado, seu patrimônio intelectual. A morte já não o conduz mais às aflições, mas à conquista de si mesmo, elevado e transformado pela experiência adquirida na encarnação que finda. O sangue daquele que morre, liberta seu Espírito, permitindo que ele retorne ao Mundo Espiritual, e o Espírito, através de sua evolução, deve libertar o homem da matéria, ou melhor, da necessidade de reencarnar.

Eu disse que nas primeiras encarnações o homem possuía apenas instintos, e aqueles que ainda se deixam dominar por eles, estão mais próximos do ponto de partida do que do ponto de chegada. Para avançar no caminho do progresso, é preciso vencer os instintos em favor dos bons sentimentos. É preciso aperfeiçoar os sentimentos e nos afastarmos das coisas materiais. Os instintos são o início dos sentimentos e trazem consigo o gérmen do progresso, assim como a semente traz, no seu interior, a árvore. As criaturas atrasadas, mesmo se libertando de suas inferioridades, ainda permanecem escravizadas aos seus instintos. O Espírito precisa ser cultivado como um campo. A riqueza futura dependerá do trabalho atual, que, além de dar ao homem os bens terrenos, ainda o conduzirá a uma gloriosa elevação. Ao compreenderem a Lei do Amor, que une todos os seres, encontrarão nela os suaves prazeres da alma, que são o início das alegrias celeste.

Fénelon - Bordeaux, 1861

9. O amor é de essência Divina. Todos os homens, do primeiro ao último, possuem, no fundo do coração, a chama desse fogo sagrado. É um fato que já puderam constatar muitas vezes: o pior dos homens, o mais perverso, o mais criminoso, sempre tem, por um ser ou por um objeto qualquer, uma grande afeição e luta contra tudo o que tente diminuí-la. Mesmo no homem mais endurecido, essa afeição pode atingir proporções admiráveis.

Eu disse "por um ser ou por um objeto qualquer", porque existem pessoas que dedicam todo seu amor aos animais, às plantas e, até mesmo, a objetos materiais. São os solitários, aqueles que evitam viver em sociedade e que reclamam da Humanidade em geral. Eles resistem à tendência natural de sua alma, que procura, ao seu redor, alguém simpático para se afeiçoar. Agindo assim, rebaixam a Lei do Amor à condição de instinto. Porém, façam o que fizerem, não serão capazes de sufocar o amor vivo que Deus depositou em seus corações quando de sua criação. Esse amor se desenvolve e cresce com a moral e com a inteligência. Embora frequentemente oprimido pelo egoísmo, o amor é a fonte das afeições sinceras e duradouras, que ajudam os homens a percorrerem o difícil e duro caminho da existência humana.

Existem pessoas que não aceitam a reencarnação, pela ideia de que outros participarão do convívio com as pessoas pelas quais elas têm simpatia, carinho e, também, ciúmes. Pobres criaturas! É o seu afeto que as torna egoístas. Seu amor está restrito a um círculo íntimo de parentes e amigos, sendo indiferentes às demais pessoas. Pois bem! Para praticar a Lei do Amor como Deus gostaria, é preciso que, pouco a pouco, consigam amar todos os seus irmãos, indistintamente! A tarefa é longa e difícil, mas se cumprirá, porque Deus assim o quer.

A Lei do Amor é o primeiro e o mais importante ensinamento da Nova Doutrina. É ela que, um dia, destruirá o egoísmo sob qualquer forma que ele se apresente. Além do egoísmo pessoal, existe ainda o egoísmo de família, de classe social e de nacionalidade. Jesus disse: "Amem o próximo como a vocês mesmos". Mas, afinal, quem é o meu próximo? Será a família, a religião, a pátria? Não. É a Humanidade inteira. Nos mundos superiores, é o amor recíproco que harmoniza e dirige os Espíritos adiantados que os habitam. Já o planeta Terra, destinado a realizar, em breve, um sensível progresso e uma grande transformação social, verá a sublime Lei do Amor ser praticada por seus habitantes, como um reflexo da Divindade.

Os efeitos dessa Lei são o aperfeiçoamento moral da raça humana e a felicidade durante a vida terrena. Os mais rebeldes e os mais viciosos deverão se reformar quando virem os benefícios produzidos pela Lei do Amor, que diz: "Não façam aos outros o que não gostariam que os outros fizessem a vocês, mas, ao contrário, façam, a eles todo bem que puderem".

Não acreditem na secura e no endurecimento do coração humano. Mesmo a contragosto, ele cede ao verdadeiro amor. É como se fosse um ímã ao qual não se pode resistir. A prática do amor desperta os germens dessa virtude que está adormecida em seus corações. A Terra, morada de provações e de exílio, será purificada por esse fogo sagrado chamado amor. Quando isso acontecer, nela serão praticadas todas as virtudes filhas do amor, ou seja, a caridade, a humildade, a paciência, a resignação e o sacrifício em favor do próximo. Não se cansem de ouvir o que dizia João, o Evangelista, que, mesmo na velhice, quando já estava enfermo e não podia mais pregar, apenas repetia essas doces palavras: "Meus filhinhos, amem-se uns aos outros".

Caros irmãos amados, pratiquem essas lições; sua prática é difícil, mas a alma retira delas um imenso benefício. Acreditem em mim e façam o sublime esforço que eu peço: "Amem-se" e verão a Terra se transformar em um novo paraíso, onde as almas virtuosas desfrutarão do repouso merecido.

Sansão, antigo membro da Sociedade Espírita de Paris, 1863

10. Meus caros companheiros de estudo, os Espíritos aqui presentes falam a vocês por meu intermédio: Amem muito para serem amados! Esse pensamento é tão justo que encontrarão nele tudo o que consola e acalma as aflições de cada dia, ou, melhor: praticando o ensinamento de amar para ser amado, irão elevar de tal maneira acima da matéria, que se espiritualizarão antes mesmo de deixarem o corpo físico. Através dos estudos espíritas, puderam aumentar a compreensão em relação ao futuro, e possuem hoje uma certeza: chegarão até Deus vendo realizadas todas as promessas que correspondem às aspirações de suas almas. Procurem se elevar bem alto, para julgarem sem as limitações da matéria e não condenarem o próximo sem antes terem dirigido o pensamento a Deus.

Amar, no sentido profundo da palavra, é ser honrado, leal, consciencioso, e fazer aos outros aquilo que se deseja para si mesmo. É procurar aliviar as dores que afligem os irmãos que nos rodeiam. É olhar a grande família humana como se fosse a sua, porque a encontrarão em outra época, em mundos mais adiantados, pois os Espíritos que a compõem são, também, filhos de Deus destinados a se elevarem ao infinito.

Não recusem o amor que receberam, generosamente, de Deus a nenhum de seus irmão. Ficariam também felizes se recebessem, deles, tudo o que necessitam. Deem a todos os sofredores uma palavra de esperança e de conforto, e serão todo amor e todo justiça. 

Acreditem que essas sábias palavras: "Amem muito, para serem amados", seguirão seu caminho de maneira firme e imutável, pois elas são revolucionárias. Entretanto, os que me escutam já ganharam algo: são, hoje, infinitamente melhores do que eram há cem anos. Mudaram de tal modo para melhor que, atualmente, aceitam, sem contestar, uma grande quantidade de novas ideias sobre a liberdade e a fraternidade, que antigamente não aceitavam. Daqui a cem anos, facilmente aceitarão outras ideias que, no momento, não conseguem compreender.

Hoje, que o movimento Espírita avançou bastante, vejam com que rapidez as ideias de justiça e de renovação, encontradas nos ensinamentos dos Espíritos, são aceitas por boa parte do mundo inteligente. É porque essas ideias correspondem a tudo que existe de Divino em cada um de vocês. A semeadura fértil do último século implantou na sociedade as grande ideias de progresso. E como tudo está sob orientação do Altíssimo, todas as lições recebidas e aceitas resultarão em uma mudança universal no que diz respeito ao amor em relação ao próximo. Pela orientação do Espiritismo, os Espíritos encarnados, compreendendo melhor as coisas e sentindo-se como irmãos, vão reunir-se fraternalmente por todo o planeta, acabando com todas as injustiças e todas as causas de desentendimento entre os povos.

Essa grande renovação causada pela Doutrina Espírita, tão bem exposta no Livro dos Espíritos, produzirá o grande milagre dos séculos futuros: o da conciliação de todos os interesses materiais e espirituais dos homens, pela aplicação desse ensinamento bem compreendido: "Amem muito, para também serem amados".

O Egoísmo
Emmanuel - Paris, 1861

11. O egoísmo, esta chaga da Humanidade, precisa desaparecer da Terra pois retarda seu progresso moral. É ao Espiritismo que está reservada a tarefa de fazer com que a Terra se eleve na hierarquia dos mundos. O egoísmo é o alvo para o qual todos os cristãos devem dirigir suas armas, sua coragem e suas forças. Digo coragem, porque é preciso mais coragem para vencer a si mesmo do que para vencer aos outros. Que cada um empregue todos os esforços para combater seu próprio egoísmo, pois ele, sendo filho do orgulho, devora as inteligências e é o causador de todas as misérias terrenas. O egoísmo é a negação da caridade, sendo, por isso mesmo, o maior obstáculo à felicidade dos homens.

Jesus deu o exemplo da caridade e Pôncio Pilatos o do egoísmo. Enquanto Jesus percorre as Santas Estações do Seu martírio, Pilatos lava as mãos dizendo: "Que me importa!". E diz aos judeus: "Este homem é justo, por que querem crucificá-lo?". E, no entanto, deixa que O conduzam ao suplício.

Se o cristianismo ainda não cumpriu sua missão por completo, é devido à luta que se trava entre a caridade e o egoísmo, pois este invadiu o coração humano como uma praga. Cabe aos Espíritas, a quem os Espíritos Superiores esclarecem, a tarefa e o dever de destruir esse mal, dando ao cristianismo toda sua força e retirando do caminho os obstáculo que impedem sua marcha. Expulsem da Terra o egoísmo, para que ela possa elevar-se na escala dos mundos, pois já é tempo de a Humanidade lutar com bravura e virilidade, mas para isso é preciso, inicialmente, expulsar o egoísmo do coração dos homens.

Pascal - Sens, 1862

12. Se houvesse amor entre os homens, a caridade seria melhor praticada. Libertem seus corações desse sentimento de indiferença e sejam mais sensíveis ao sofrimento alheio, pois a indiferença mata todos os bons sentimentos. Cristo atendia a todos que O procuravam, desde a mulher adúltera até o criminoso, todos eram igualmente socorridos. Ele nunca temeu que Sua reputação viesse a sofrer com isso. Quando irão usá-Lo como modelo para suas ações? Se a caridade reinasse na Terra, os homens maus não predominariam. Eles fugiriam envergonhados e se esconderiam, porque em toda parte iriam sentir-se deslocados. O mal então desapareceria, fiquem bem certos disso.

Iniciem dando o exemplo e sejam caridosos para com todos, indistintamente. Não se preocupem com aqueles que os desprezam. Deixem a Deus o encargo de fazer toda justiça, pois, a cada dia, em Seu Reino, Ele separa o joio do trigo

O egoísmo é o sentimento oposto ao da caridade. Sem a caridade, não haverá paz na sociedade humana e nem segurança. Com o egoísmo e o orgulho andando juntos, a vida será sempre uma competição. Uma verdadeira luta de interesses, onde nem mesmo os laços sagrados da família e nem as santas afeições serão respeitadas.

A Fé e a Caridade
Um Espírito protetor - Cracóvia, 1861

13. Eu disse recentemente, meus queridos filhos, que a caridade sem a fé não basta para manter entre os homens uma ordem social capaz de torná-los felizes. Deveria ter dito que a caridade é impossível sem a fé. Na verdade, poderão encontrar impulsos generosos até mesmo entre as pessoas sem religião. Mas a caridade verdadeira, aquela que se pratica com a renúncia constante dos interesses egoístas, somente a fé poderá inspirar. Somente ela nos dá condições de carregar, com coragem e persistência, a cruz desta vida.

Meus filhos, é em vão que o homem ávido de prazeres tenta se iludir quanto ao seu destino aqui na Terra, achando que deve ocupar-se apenas de sua felicidade. Deus criou o homem com a certeza de que ele será feliz na eternidade, por isso, a vida terrena deve servir unicamente para o seu aperfeiçoamento moral. Esse aperfeiçoamento se consegue mais facilmente com o auxílio do corpo físico e das exigências do mundo material. As dificuldades comuns da vida, a diversidade dos gostos, das tendências, das necessidades, tudo isso constitui um meio para que se aperfeiçoem, exercitando a caridade. Apenas à custa de concessões e sacrifícios é que poderão manter a harmonia entre elementos tão diversos.

Aqui na Terra, a felicidade está destinada aos homens que a procuraram na prática do bem e não aos que a procura nos prazeres materiais. A história da cristandade nos fala dos mártires que caminhavam com alegria para o suplício. Para ser cristão, na sociedade atual, não é mais necessário o sacrifício do mártir, nem o sacrifício da própria vida, mas, simplesmente, o sacrifício do egoísmo, do orgulho e da vaidade. Vocês serão vencedores, se forem inspirados pela caridade e sustentados pela fé.

Caridade para com os Criminosos
Elisabeth de França - Havre, 1862

14. A verdadeira caridade é um dos ensinamentos mais sublimes que Deus forneceu ao mundo através de Jesus. Entre os verdadeiros discípulos de Sua Doutrina, deve existir uma completa fraternidade. Recebam os infelizes e os criminosos como criaturas de Deus, para as quais o perdão e a misericórdia serão dados um dia, desde que se arrependam, do mesmo modo que é dado a todos os que cometem faltas contra Sua Lei. Muitos deveriam saber que são mais culpados do que aqueles para os quais recusam o perdão e a compaixão. Na maioria das vezes, ele não têm consciência da existência de Deus, ao passo que vocês têm. É por isso que será pedido menos a eles do que será pedido a vocês.

Não julguem! Não julguem, meus queridos amigos, porque o critério que usarem para julgar o próximo será usado ainda mais severamente para julgá-los! E todos têm necessidade de indulgência para as faltas que cometem com frequência. Existem muitas ações que são crimes aos olhos de Deus e que o mundo não as considera sequer como faltas leves.

A verdadeira caridade não consiste em apenas dar esmola e nem nas palavras de consolo que acrescentam. Não, não é apenas isso que Deus exige de vocês! A caridade Divina, ensinada por Jesus, consiste em ser sempre bondoso para com tudo aquilo que diga respeito ao próximo. Todos podem praticar essa virtude sublime com muitas criaturas que não precisam de esmolas, e som de palavras de amor, de consolo e de encorajamento. Essas palavras poderão conduzir essas criaturas ao Senhor.

Estão próximos os tempos, volto a dizer, em que a grande fraternidade reinará na Terra. A Lei do Cristo é a que regerá os homens, através do equilíbrio e da esperança, conduzindo as almas a moradas mais felizes. Amem-se como filhos do mesmo Pai. Não façam distinção para com os infelizes, pois Deus quer que todos sejam iguais; por isso, não desprezem ninguém. Para servir de ensinamento, Deus permite que grandes criminosos estejam entre os homens. Brevemente, quando todos praticarem as verdadeiras Leis de Deus, esses ensinamentos não serão mais necessários, e todos os Espíritos impuros e revoltados serão dispersados para mundos inferiores, de acordo com suas tendências.

A verdadeira caridade está em socorrer os criminosos com suas preces. Não se deve falar de um criminoso: "É um miserável, é preciso eliminá-lo da Terra, a morte que lhe é imposta é muito branda para uma criatura dessa espécie". Não, não é assim que devem falar. O que Jesus, que é o nosso modelo, diria se visse um infeliz desses ao Seu lado? Além de lamentar sua situação e considerá-lo um doente digno de piedade, ainda lhe entenderia a mão. Na verdade, ainda não estão em condições de fazer o mesmo, mas ao menos podem orar por ele, dando assistência a seu Espírito durante o período que ele ainda deve permanecer na Terra. O arrependimento pode tocar seu coração se orarem com fé. Lembrem-se de que tanto o homem de bem quanto o criminoso são nossos próximos. Assim, a alma desnorteada e revoltada do criminoso também foi criada para se aperfeiçoar; então, ajudem-no a sair da situação ruim em que se encontra e orem por ele.

Devemos Arriscar Nossa Vida por um Malfeitor?
Lamennais - Paris, 1862

15. Um homem corre perigo de morte. Para salvá-lo é preciso arriscar nossa própria vida. Sabe-se que ele é um malfeitor e que, se escapar, poderá cometer novos crimes. Devemos, ainda assim, arriscar-nos para salvá-lo?

Esta é uma questão muito importante e que, naturalmente, pode ocorrer. Responderei segundo meu adiantamento moral, pois é preciso saber se devemos arriscar a nossa vida, ainda que seja por um malfeitor. O devotamento é cego. Se socorrermos um inimigo, devemos, também, socorrer um malfeitor, que é um inimigo da sociedade. Ao socorrê-lo, não vamos evitar somente sua morte, pois nos últimos minutos da vida, o homem perdido vê toda sua última encarnação desfilar diante de si. Esse fato proporciona a ele a chance de se arrepender e a oportunidade de um reerguimento moral. A morte talvez chegasse cedo demais para esse infeliz, e sua próxima reencarnação poderia lhe ser terrível. Coragem, homens, a quem a Ciência Espírita esclareceu. Socorram-no, tirando-o de sua condenação. e, talvez, esse homem, que teria morrido insultando a todos, se lançará nos braços daquele que teve caridade para com ele. Mesmo assim, não devem perguntar se ele vai agradecer ou não; ao salvá-lo, estarão obedecendo à voz do coração, que diz: "Se podem salvá-lo, salvem-no".

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2. A Lei e os Profetas - Ao citar a Lei, Jesus referia-se aos livros do Velho Testamento, que continham os mandamentos a que os israelitas obedeciam. Já os Profetas foram todos os Espíritos Superiores que estiveram na Terra, antes de Jesus, para falar em nome de Deus como porta-vozes da Espiritualidade.

5. Herodianos - Eram os partidários de Herodes e faziam oposição aos fariseus.

11. Santas Estações - São os lugares onde Jesus parou para descansar enquanto carregava Sua cruz, de madeira, a caminho da crucificação.

12. Separar o joio do trigo - O joio é uma espécie vegetal que nasce no meio do trigo, como uma praga. A expressão, separar o joio do trigo significa o mal do bem.

15. Caridade - Sem a caridade das almas nobres, o malfeitor demoraria muito mais tempo para recuperar-se.



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