terça-feira, 5 de outubro de 2021

Bem-Aventurados os Que São Misericordiosos




CAPÍTULO X

Bem-Aventurados Os Que São Misericordiosos

• Perdoem Para Que Deus Possa Lhes Perdoar 
•  Reconciliem-se Com Seus Adversários
• O Sacrifício Mais Agradável A Deus
• O Cisco E A Trave No Olho • Não Julguem Para Não Serem Julgados - Aquele Que Estiver Sem Pecado, Atire A Primeira Pedra


Instruções Dos Espíritos:
• O Perdão Das Ofensas • A Indulgência
• É Permitido Repreender Os Outros? • É Permitido Observar As Imperfeições Alheias? • É Permitido Divulgar O Mal Alheio?

Perdoem Para Que Deus Possa Lhes Perdoar

1. "Bem-aventurados os que são misericordiosos, porque eles próprios alcançarão a misericórdia" (Mateus, 5:7).

2.  "Se perdoarem as faltas que os homens cometem contra vocês, também receberão o perdão de Meu Pai Celestial. Mas, se não perdoarem os homens quando forem ofendidos, Meu Pai Celestial também não os perdoará" (Mateus, 6:14 e 15).

3. "Se um irmão pecou contra vocês, vão e acertem a falta em particular com ele, e, se ele ouvir, terão ganho um irmão". Pedro, aproximando-se de Jesus, perguntou: "Senhor, quantas vezes terei que perdoar meu irmão, quando ele pecar contra mim? Será até sete vezes?". E Jesus lhe respondeu: "Você deve perdoá-lo não apenas sete vezes, mas sim, setenta vezes sete vezes" (Mateus, 18:15, 21 e 22).

4. A misericórdia é o complemento da doçura, pois aquele que não for misericordioso também não será manso nem pacífico. A misericórdia consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e o rancor são próprio de uma alma sem elevação e sem grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio de uma alma elevada que está acima do mal que lhe queiram fazer. A alma que odeia é sempre ansiosa, sua sensibilidade é sombria, desconfiada e cheia de amargura. A alma elevada é calma, cheia de mansidão e caridade. 

Infeliz daquele que diz: "Nunca perdoarei!". Se não for condenado pelos homens, certamente, o será por Deus. Com que direito pedirá o perdão para suas próprias faltas, se ele mesmo não consegue perdoar as que os outros cometem? Jesus nos ensina que a misericórdia não deve ter limites, quando diz que "devemos perdoar nosso irmão, não sete, mas setenta vezes sete vezes".

Existem duas maneiras bem diferentes de perdoar: A primeira  é grande, nobre e verdadeiramente generosa, pois esquece o que passou e, evita com delicadeza, ferir o amor-próprio e a suscetibilidade do agressor, mesmo que ele seja culpado. A segunda é quando aquele que se julga ofendido impõe condições humilhantes ao seu ofensor, fazendo com que ele sinta todo o peso de um perdão que irrita em vez de acalmar. Se estende a mão, não o faz com bondade, e sim com ostentação, para que possa dizer a todos: "Vejam como sou generoso!". Em tais condições, é impossível que a reconciliação seja sincera de ambas as parte. Isto não é generosidade, é, antes, uma maneira de satisfazer o orgulho. Portanto, aquele que possui uma alma verdadeiramente grande, em todas as disputas, se mostrará mais pacificador, mais tolerante e mais caridoso. Agindo assim, conquistará sempre a simpatia das pessoas imparciais.

Reconciliem-se com Seus Adversários

5. "Reconciliem-se o mais rápido possível com seus adversários, enquanto estiverem com eles a caminho, para que não ocorra que seus adversários os entreguem ao juiz, e o juiz os entregue ao ministro da justiça, e que sejam enviados à prisão. Em verdade, Eu digo a vocês que não sairão de lá enquanto não pagarem até o último centavo" (Mateus, 5:25 e 26).

6. Na prática do perdão, assim como na prática do bem, além do efeito moral, existe, também o efeito material. Sabemos que a morte não nos livra dos nossos inimigos. Os Espíritos desencarnados que desejam vingança perseguem, frequentemente, com seu ódio, aqueles contra os quais ainda guardam rancor. Por isso, o provérbio que diz "morta a cobra, morto o veneno" torna-se falso, quando aplicado ao homem. O Espírito mau, por estar desligado do corpo físico, possui mais liberdade. Ele se aproveita dessa condição para atormentar sua vítima, que está presa ao corpo, prejudicando seus interesses ou suas afeição mais caras. O Espírito que já desencarnou continua sentido ódio e rancor e não consegue perdoar aquele que lhe fez mal. Aí reside a causa da maior parte dos casos de obsessão, principalmente, aqueles que apresentam maior gravidade, como a subjugação e a possessão.

O obsediado e o possesso são quase sempre vítimas de uma vingança, cuja causa se encontra em uma existência anterior, onde os dois foram responsáveis por condutas erradas. Deus permite que a obsessão aconteça como uma espécie de punição para aqueles que não foram caridosos nem misericordiosos ao não perdoarem os que lhe fizeram mal. É importante, para tranquilidade futura, corrigir, o mais rápido possível, os erros que cada um de nós comete contra nosso próximo. Devemos perdoar os inimigos a fim de eliminar, antes de desencarnar, qualquer motivo de desavença, ódio ou rancor. Desse modo, pode-se fazer de um inimigo neste mundo um amigo no Mundo Espiritual, ou, pelo menos, ficar do lado do bem. Deus sempre ampara aqueles que perdoam.

Quando Jesus recomenda que nos reconciliemos, o mais rápido possível, com nossos adversários, não quer somente evitar as discórdias na vida presente, mas, principalmente, evitar que elas continuem nas existências futuras. Jesus disse: "Não sairão de lá enquanto não pagarem até o último centavo". Isso quer dizer: "Enquanto não perdoarmos uns aos outros, estaremos sempre presos em cadeias de ódio e rancor, das quais só nos libertaremos quando a Justiça de Deus for integralmente cumprida. É preciso, também, que tenhamos a consciência de essa Justiça age sobre nós de forma isenta e correta".

O Sacrifício Mais Agradável A Deus

7. "Quando estiverem fazendo a oferenda diante do altar e lembrarem-se de que seu irmão tem alguma coisa contra vocês, deixem a oferenda ao pé do altar e vão primeiro se reconciliar com seu irmão, e só depois voltem para fazer a oferenda" (Mateus, 5:23 e 24).

8. Quando Jesus disse: "Reconciliem-se primeiro com seu irmão, antes de apresentarem a oferenda ao altar", ensinou que o sacrifício mais agradável ao Senhor é o sacrifício do próprio ressentimento, pois, antes de solicitar o perdão de Deus, é preciso já ter perdoado. Se cometemos alguma injustiça contra um de nossos irmãos, é preciso que essa injustiça já tenha sido reparada. Somente assim a oferenda será agradável a Deus, pois virá de um coração puro e livre de qualquer mau pensamento. Naquela época, era costume, entre os judeus, oferecer bens materiais a Deus. Eles faziam isso como forma de demonstrar seu amor e respeito. Pelo ensinamento de que primeiro era preciso se reconciliar com o irmão, antes de apresentar a oferenda, Jesus estava adequando Suas palavras aos costumes que vigoravam na época. O verdadeiro cristão não precisa fazer doações materiais a Deus, pois ele espiritualizou o sacrifício e sabe que o ensinamento do perdão é muito mais importante que a oferenda. Ele oferece sua alma e essa deve estar purificada. Ao entrarem no Templo do Senhor, devem deixar do lado de fora todo mau pensamento contra seu irmão e todo sentimento de ódio e animosidade. Só então os Espíritos Superiores levarão suas preces ao Altíssimo. Eis o que Jesus ensina com estas palavras: "Deixem sua oferenda ao pé do altar e vão primeiro se reconciliar com seus irmãos, se quiserem ser agradáveis ao Senhor".

O Cisco E A Trave No Olho

9. Como vocês conseguem ver um cisco que está no olho de seu irmão e não conseguem ver a trave que está em seu próprio olho? Como podem dizer a seu irmão: Deixe-me tirar o cisco que está em seu olho, se no de vocês possui uma trave? Hipócritas, retirem primeiro a trave que está em seu olho, para depois retirarem o cisco que está no olho de seu irmão (Mateus, 7:3 a 5).

10. Um dos defeitos da Humanidade é ver primeiro o mal alheio, para depois ver o seu próprio. Para fazer um julgamento correto, seria preciso que o homem olhasse seu interior num espelho, se transportasse de alguma forma para fora de si mesmo e, considerando-se como outra pessoa, perguntasse: O que eu iria pensar se visse alguém fazendo o que eu faço? Indiscutivelmente, é o orgulho que faz com que o homem disfarce seus próprios defeitos, tanto morais quanto físicos. Esse comportamento é totalmente contrário à caridade, pois a verdadeira caridade é modesta, simples e tolerante. Não faz sentido praticar a caridade de maneira orgulhosa, pois a caridade e o orgulho são sentimentos que se neutralizam um ao outro. Aquele que é orgulhoso não consegue praticar a caridade. Um homem bastante vaidoso, que acredita possuir qualidades superiores, não consegue ressaltar o bem em outras pessoas, pois isso poderia ofuscá-lo. Assim, prefere ressaltar o mal que poderia promovê-lo. O orgulho, além de ser o pai de muitos vícios, ainda impede a manifestação de muitas virtudes. Ele é a razão de quase todas as más ações do homem, e foi por isso que Jesus se dedicou tanto em combatê-lo. O orgulho é, sem dúvida, o principal obstáculo ao progresso da Humanidade.

Não Julguem Para Não Serem Julgados - Aquele Que Estiver Sem Pecado, Atire a Primeira Pedra

11. Não julguem para não serem julgados, pois serão julgados conforme julgarem os outros. E será aplicada a vocês a mesma medida que usaram para medir os outros (Mateus, 7:1 e 2).

12. Então, escribas e fariseus levaram até Jesus uma mulher que havia sido surpreendida em adultério e, fazendo com que ela ficasse em pé, no meio do povo, disseram: "Mestre, essa mulher acaba de ser surpreendida em adultério. Moisés nos ordena, na Lei, apedrejar as adúlteras. Qual é a Sua opinião a respeito desse assunto?". Eles diziam isso querendo tentar Jesus, a fim de terem do que acusá-lo. Porém, Jesus, abaixando-se, começou a escrever com Seu dedo na areia. Como continuassem a interrogá-lo. Ele levantou e disse: "Aquele dentre vocês que estiver sem pecado atire a primeira pedra". Após isso, abaixou-se novamente e continuou a escrever na areia. Mas eles, tendo ouvido Jesus falar assim, retiraram-se um após o outro, saindo em primeiro lugar os mais velhos, porque possuíam mais pecados. Após todos se retirarem, Jesus ficou sozinho com a mulher no meio da praça.

Então, Ele levantou-se de novo e disse: "Mulher, onde estão os que lhe acusavam? Ninguém condenou você?". E ela respondeu: "Ninguém, Senhor". Então, Jesus lhe disse: "Eu também não vou lhe condenar. Vá e não volte a pecar" (João, 8:3 a 11).

13. Com esse ensinamento: "Aquele que estiver sem pecado, atire a primeira pedra", Jesus faz do perdão um dever, pois não existe ninguém que não precise dele para si mesmo. Ele nos ensina que não devemos julgar os outros mais severamente do que julgaríamos a nós mesmos, e nem condenar no próximo o que perdoaríamos em nós. Antes de condenar alguém por uma falta, vejamos se a mesma reprovação não nos pode ser aplicada.

A censura da conduta alheia pode ter dois motivos: o primeiro é reprimir o mal, e o segundo é desacreditar a pessoa cujos atos estamos criticando. No segundo caso, nunca encontraremos desculpa, pois a crítica tem origem na maledicência e na maldade. Reprimir o mal é louvável e constitui, em alguns casos, até mesmo um dever, principalmente, se dessa repressão resultar um bem. Sem esse procedimento, o mal nunca seria combatido na sociedade, e o homem deve ajudar sempre no progresso de seus semelhantes. Este princípio: "Não julguem para não serem julgados", não deve ser aplicado em sentido absoluto, porque a letra mata e o Espírito vivifica, ou seja, o que estiver escrito não terá valor nenhum se o ensinamento não for seguido.

Não é possível que Jesus tenha proibido a censura do mal, pois em todas as oportunidades Ele o combateu de maneira enérgica. Ensinou que a autoridade para censurar está na razão direta da autoridade moral daquele que censura. Se nos sentimos culpados por aquilo que condenamos nos outros, não temos o direito de ter autoridade para censurar e, ainda mais, estaríamos condenando alguém de forma injusta. Em nosso íntimo, não conseguimos obedecer a alguém que, mesmo tendo poder, não respeita as Leis e os princípios da autoridade que está querendo aplicar. Não existe autoridade mais legítima aos olhos de Deus do que aquela que se apoia no exemplo dado pelo homem de bem. Isso é o que fica ressaltado, de forma bem clara, nos ensinamentos de Jesus. 

Instruções dos Espíritos

O Perdão Das Ofensas
Simeão - Bordeaux, 1862

14. "Quantas vezes perdoarei ao meu irmão?", perguntou Pedro a Jesus. "Você deve perdoá-lo não sete vezes, mas sim, setenta vezes sete vezes." Esse é um dos ensinamentos de Jesus que mais deve marcar a inteligência de vocês e falar bem alto a seus corações. Comparem essas palavras de misericórdia com a prece tão simples, tão resumida e tão grande em suas aspirações, a oração do Pai Nosso que Jesus ensinou a Seus discípulos, e encontrarão sempre o mesmo pensamento. Jesus, o justo por excelência, responde a Pedro: "Você perdoará, mas sem limites; perdoará ainda que a ofensa lhe seja feita muitas vezes; ensinará a seus irmãos o esquecimento de si mesmo, que os torna invulneráveis às agressões, aos maus tratos e às injúrias. Será doce e humilde de coração, nunca medindo sua mansidão e brandura. Fará aos outros o que deseja que o Pai Celestial faça por você. Não tem, Ele, o perdoado sempre? Por acaso, conta as inúmeras vezes que o Seu perdão vem apagar as suas faltas?". Prestem atenção na resposta de Jesus e, como Pedro, procurem aplicá-la a vocês mesmos. Deem, e o Senhor lhes restituirá. Perdoem, e o Senhor vai perdoá-los. Abaixem-se, e o Senhor os reerguerá. Humilhem-se, e o Senhor fará com que sentem à Sua direita.

Vão, meus bem-amados, estudem e comentem essas palavras que eu dirijo a todos, da parte Daquele que, do alto dos esplendores Celestes, sempre cuida de vocês e continua, com amor, a tarefa ingrata que começou há dezoito séculos.

Perdoem o próximo, pois também precisam do seu perdão. Se vocês são prejudicados pelos atos dos seus irmãos, é mais um motivo para serem tolerantes, porque o mérito de perdoar é proporcional à gravidade do mal cometido. Além disso, nenhum merecimento terão, se não perdoarem, sinceramente, seus irmãos pelas pequenas ofensas que eles fazem.

Espíritas, nunca esqueçam que, tanto nas palavras como nas ações, o perdão dos insultos nunca deve ser uma palavra vazia. Se vocês se dizem Espíritas, então o sejam de fato. Esqueçam o mal que lhes foi feito e pensem apenas em uma coisa: No bem que podem fazer. Aquele que entrou nesse caminho não deve se afastar dele, nem mesmo em pensamento, porque todos são responsáveis por aquilo que pensam e Deus conhece bem o que andam pensam. Cuidem para que todos pensamento seja desprovido de qualquer sentimento de rancor. Deus sabe o que se passa no coração de cada um de Seus filhos. Feliz daquele que, a cada noite, pode deitar-se e dizer: "Nada tenho contra meu próximo".

Paulo, apóstolo - Lyon, 1861

15. Perdoar os inimigos é pedir perdão para si mesmo. Perdoar os amigos é dar a eles uma prova de amizade. Perdoar as ofensas é demonstrar que se está melhorando. Perdoem, meus amigos, para que Deus também possa perdoá-los. Se forem duros, exigentes e rigorosos, mesmo por uma pequena ofensa, como vão querer que Deus esqueça que, a cada dia, vocês também têm necessidade de perdão.

Infeliz daquele que diz: "Nunca perdoarei", pois está pronunciando a sua própria condenação. Será que fazendo uma autoanálise não irão encontrar, em vocês mesmos, o agressor? Quem sabe se, nessa luta que começa por um simples desentendimento e termina numa ruptura, o primeiro golpe não partiu de vocês? Será que não deixaram escapar uma palavra ofensiva? Será que usaram a moderação necessária? Sem dúvida, o adversário errou em se mostrar tão melindroso. mas isso deve ser mais uma razão para serem indulgentes e não o censurarem. Vamos admitir que foram, realmente, os ofendidos em uma determinada circunstância; quem garante que não envenenaram a situação por vingança, transformando em disputa séria o que poderia ter caído facilmente no esquecimento? Se dependeu de vocês impedir as consequências e não o fizeram, então são realmente culpados. Vamos imaginar também que não tenham absolutamente nada a reprovar em suas condutas; nesse caso, quanto maior tiver sido a capacidade de perdoar, maior será o mérito de vocês.

Existem duas maneiras diferentes de perdoar: o perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitas pessoas dizem a respeito do seu adversário: "Eu o perdoo", enquanto, interiormente, alegram-se com o mal que lhe acontece, dizendo a si mesmos que ele bem o mereceu. Quantos dizem: "Eu perdoo" e acrescentam: "Mas nunca me reconciliarei, não quero vê-lo pelo resto de minha vida"; será esse o perdão ensinado pelo Evangelho? Não! O verdadeiro perdão ensinado pelo Cristo é aquele que lança um véu sobre o passado. É o único que será levado em consideração, pois Deus não se contenta com aparências. Ele examina o fundo dos corações e os mais secretos pensamentos, não aceitando apenas palavras e simples fingimentos. O esquecimento completo e absoluto das ofensas é próprio das grandes almas. O rancor é sempre um sinal de inferioridade. O verdadeiro perdão se reconhece mais pelos atos do que pelas palavras.

A Indulgência
Joseph, Espírito Protetor - Bordeaux, 1863

16. Espíritas, gostaríamos de falar hoje sobre a indulgência, ou, melhor, sobre o perdão, a misericórdia, a tolerância, sentimentos tão doces, tão fraternais que todo homem deveria ter para com seus irmãos, mas que poucos praticam.

A indulgência jamais vê os defeitos alheios, e, se os vê, evita falar deles e divulgá-los. Ao contrário, ela os esconde, a fim de que não sejam conhecidos. Se a maledicência os descobre, a indulgência sempre tem uma desculpa pronta para amenizá-los, mas sempre uma desculpa razoável, séria, e não daquelas que, em vez de atenuar a falta, ressaltam-na de um modo maldoso.

A indulgência jamais se ocupa com os erros alheios, a menos que eles possam ser usados para servir de exemplo à sociedade e, ainda assim, os utiliza tomando o cuidado para atenuá-los tanto quanto possível.

A indulgência não faz observações ofensivas, nem censuras verbais, mas apenas limita-se a dar conselhos, quase sempre de maneira despercebida. Quando criticam, que conclusão devem tirar de suas palavras? É a de que vocês criticam jamais irão fazer o que reprovam e, também, de que são melhores do que o culpado. Quando será que irão julgar seus próprios corações, seus próprios pensamentos, seus atos, sem se ocuparem com o que fazem seus irmãos? Quando irão olhar com severidade somente para vocês mesmos?

Sejam severos para consigo mesmos e indulgentes para com os outros. Lembrem-se Daquele que julga em última instância e que vê os pensamentos secretos de cada coração. Por isso, muitas vezes, Deus perdoa as faltas que vocês censuram em seus irmãos, e condena as que vocês desculpam, porque Ele conhece bem a causa de todos os atos. Muitas vezes, aqueles que pedem para que o próximo seja castigado, talvez, tenham cometido erros ainda mais graves.

Sejam indulgentes, meus amigos, pois a indulgência atrai, acalma e reergue, ao passo que o rigor demasiado desanima, afasta e irrita.

João, Bispo de Bordeaux, 1862

17. Sejam indulgentes para com as faltas alheias, quaisquer que sejam elas. Julguem com severidade apenas as próprias ações e o Senhor usará de indulgência para com vocês, da mesma maneira que usam para com os outros.

Apoiem os fortes, encorajando-os a prosseguir no bem. Fortifiquem os fracos, mostrando-lhes a bondade de Deus, que leva em consideração o menos arrependimento. Mostrem a todos o anjo do arrependimento estendendo suas asas brancas sobre as faltas humanas, ocultando-as dos olhos daqueles que não veem senão o que é impuro. Compreendam a misericórdia infinita do Pai e não esqueçam nunca de Lhe dizer pelo pensamento, mas, principalmente, pelos atos: "Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aqueles que nos têm ofendido". Compreendam bem o valor dessas sublimes palavras, não só sua letra é admirável, mas também o ensinamento que elas contêm.

O que pedem ao Senhor quando solicitam o seu perdão? Somente o esquecimento das faltas que cometeram? Se Deus se contentasse em esquecer suas faltas, Ele não os puniria, mas também não os recompensaria. A recompensa não pode ser o prêmio pelo bem que não fizeram e menos ainda pelo mal que praticaram, mesmo que esse mal tenha sido esquecido. Ao pedirem a Deus para que perdoe seus desvios, peçam a Ele a graça para não mais cometê-los, e a força necessária para entrar em um novo caminho de obediência e amor, no qual, junto com o arrependimento, poderão acrescentar a reparação do erro.

Quando perdoarem seus irmãos, não se contentem em estender o véu do esquecimento sobre suas faltas. Esse véu é, na maioria das vezes, muito transparente aos olhos de vocês. Ao perdoarem, acrescentem, também, o amor, façam aos outros o que gostariam que o Pai Celestial fizesse por vocês. Troquem a cólera que desonra pelo amor que purifica. Preguem dando o exemplo dessa caridade incansável que Jesus ensinou. Preguem como Ele próprio fez, durante o tempo em que viveu na Terra, e como ainda prega, sem cessar, depois que retornou ao Plano Espiritual. Sigam o Divino Modelo, sigam Seus passos, pois eles os conduzirão a um lugar de refúgio, onde encontrarão o repouso após a luta. Como Jesus, carreguem sua cruz e subam, com coragem, o calvário, pois no seu cume está a glorificação.

Dufêtre, Bispo de Nevers - Bordeaux

18. Sejam severos para consigo mesmos e indulgentes para com as fraquezas alheias. Esta é uma prática caridosa que poucas pessoas observam. Todos têm tendências ruins a vencer, defeitos a corrigir, hábitos a modificar. Todos têm um fardo mais ou menos pesado e precisam se livrar dele para chegar ao cume da montanha do progresso. Por que são tão exigentes para com o próximo e tão cegos para consigo mesmos? Quando deixarão de perceber, no olho do irmão, o cisco que o fere, enquanto vocês possuem uma trave que os cega e faz com que caminhem de queda em queda? Creiam nos Espíritos, pois eles são irmãos. Todo homem orgulhoso que se achar superior, em virtude e mérito, a seus irmãos encarnados, é sempre um insensato, e Deus o julgará por isso no dia de Sua justiça. O verdadeiro sentido da caridade é a modéstia e a humildade. Ambas consistem em ver apenas superficialmente os defeitos alheios e ressaltar, no próximo, as virtudes e o que existe de bom. Ainda que o coração humano seja um abismo de corrupção, sempre existe, em alguma de suas regiões mais profundas, o gérmen dos bons sentimentos, como se fosse uma lembrança de sua realidade espiritual.

Espiritismo, Doutrina consoladora e bendita! Felizes são aqueles que a conhecem e tiram proveito dos salutares ensinamentos dos Espíritos do Senhor! Para ele, o caminho está iluminado e, ao longo da jornada terrena, podem ler essas palavras que lhes indicam o meio de chegar ao objetivo: caridade praticada com o coração, caridade para com o próximo e para consigo mesmo. Resumindo, caridade para com todos e o amor a Deus acima de todas as coisas. O amor a Deus resume todos os deveres e é impossível amar realmente a Deus sem praticar a caridade, da qual Ele fez uma Lei para todas as criaturas.

É Permitido Repreender Os Outros?
São Luís - Paris, 1860

19. Se ninguém é perfeito, significa que ninguém tem o direito de repreender o seu próximo?

Certamente que não é essa a conclusão a ser tirada, pois cada um deve trabalhar pelo progresso de todos e, principalmente, pelo progresso daqueles a quem Deus nos confiou a proteção. Por isso, essa repreensão deve ser feita com moderação, com um objetivo útil e não como se faz, na maioria das vezes, pelo prazer de denegrir. Nesse caso, a repreensão será sempre uma maldade. A censura feita com moderação é um dever que a caridade manda realizar com todos os cuidados possíveis. E, ainda mais, a repreensão que se faz aos outros deve, ao mesmo tempo, ser dirigida a nós, para vermos se também não a merecemos.

É Permitido Observar As Imperfeições Alheias?
São Luís - Paris, 1860

20. Seremos repreendidos em observar as imperfeições alheias, quando disso não resultar nenhum proveito para eles, mesmo que não as divulguemos?

Tudo vai depender da intenção com que se faz essa repreensão. Certamente, não é proibido ver o mal, quando o mal existe. Seria mesmo inconveniente ver, por parte, somente o bem. Essa ilusão prejudicaria o progresso. O erro está em fazer tal observação em prejuízo do próximo, rebaixando-o sem necessidade perante a opinião pública. Seria, ainda condenável observar as imperfeições alheias apenas para satisfazer nossos sentimentos de maldade e de alegria, ao verificar o defeito dos outros. Ocorre o contrário quando lançamos um véu sobre o mal, ocultando-o do público e nos limitando a observá-lo para proveito próprio, ou seja, para estudá-lo a fim de evitar fazer o que repreendemos nos outros. Esta observação é útil aos homens sérios que se dedicam ao estudo da moral, pois, como eles descreveriam os defeitos da Humanidade, se não estudassem seus exemplos?

É Permitido Divulgar O Mal Alheio?
São Luís - Paris, 1860

21. Haverá casos em que pode ser útil revelar o mal dos outros?

Esta questão é muito delicada e é nesse ponto que a caridade precisa ser bem compreendida. Se os defeitos de uma pessoa prejudicam apenas a ela mesma, não existe nenhuma utilidade em divulgá-los. Porém, se esses defeitos podem prejudicar outras pessoas, é preferível o interesse da maioria ao interesse de um só. Em alguns casos, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode ser um dever, pois é preferível a queda de um homem do que vários serem vítimas de sua enganação. Neste caso, é preciso pesar a soma das vantagens e dos inconvenientes.

Comentários

5. "Enquanto estiverem com eles a caminho" - Essa expressão significa que devemos nos reconciliar com os nossos adversários enquanto estivermos vivendo com eles na Terra, nesta encarnação.

Prisão - A prisão referida por Jesus, no ensinamento do item 5 pode ser entendida como um lugar de sofrimento e aflição no Plano Espiritual, para onde vão aqueles que deixam a Terra sem terem perdoado ou se reconciliado com seus adversários. Ele adverte que o Espírito não sairá de lá até que se arrependa, do fundo do coração, dos erros que cometeu.

6. Obsessão - É a influência maléfica de um Espírito desencarnado sobre um Espírito encarnado. Essa influência maléfica também pode dar-se: de um Espírito encarnado sobre um Espírito desencarnado, entre Espíritos desencarnados e, finalmente, entre Espíritos encarnados.

Subjugação - É uma forma de obsessão em que a vítima perde a vontade própria e sofre uma dominação profunda do obsessor.

Possessão - É um estado bem mais avançado de obsessão, pois a vítima, além de perder o domínio total dos sentidos e das ações, passa a agir sob o comando do obsessor.

9. Trave - Na época de Jesus, era um tronco de árvore empregado em construção, uma madeira grossa.

16. Indulgência - É uma das virtudes que caracteriza o verdadeiro cristão e que se manifesta pela postura complacente, condescendente e compreensiva, perante as faltas e imperfeições alheias.

17. Calvário - Em aramaico, Gólgota. É o nome dado à colina que, na época de Cristo, ficava fora da cidade de Jerusalém, onde Jesus foi crucificado. O termo calvário também pode ser usado como sinônimo de martírio, longo sofrimento.







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