sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Bem-Aventurados Os Mansos e Pacíficos



CAPÍTULO IX

Bem-Aventurados Os Mansos e Pacíficos



• Injúrias e Violências

Instruções dos Espíritos
• A Afabilidade e a Doçura • A Paciência
• Obediência e Resignação • A Cólera



Injúrias e Violências

1. Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra  (Mateus, 5:4).

2. Bem-aventurados os pacífico, porque serão chamados filhos de Deus (Mateus, 5:9).

3. Jesus disse para aqueles que O escutavam: "Aprenderam o que foi dito aos antigos: Não matem, e todo aquele que matar merecerá ser condenado pelo julgamento. Porém, Eu digo que todo aquele se enfurecer contra seu irmão merecerá ser condenado pelo julgamento. E aquele que disser 'Racca' a seu irmão merecerá ser condenado pelo conselho. E aquele que disser 'És louco', merecerá ser condenado ao fogo do inferno" (Mateus, 5:21 e 22).

4. Por estes ensinamentos morais, Jesus estabeleceu como Lei a doçura, a moderação, a brandura, a afabilidade e a paciência, condenando, consequentemente, a cólera, a violência e qualquer expressão descortês para com os semelhantes. Racca, entre os hebreus, era uma expressão de desprezo que significava homem inútil, desprezível, e se pronunciava cuspindo e virando o rosto para o lado. Jesus vai ainda mais longe, pois ameaça com o fogo do inferno aquele que disser a seu irmão: "És louco".

É evidente que nesta, como em qualquer outra circunstância, a intenção de quem pronuncia as palavras pode agravar ou atenuar a falta. Então, pergunta-se: por que uma simples palavra pode ser tão grave a ponto de merecer uma reprovação tão severa? É porque toda palavra ofensiva expressa um sentimento contrário à Lei do Amor e da Caridade, que deve fazer com que os homens mantenham, entre si, uma relação de concórdia e união. Uma palavra ofensiva, além de alimentar o ódio e o rancor, também é um insulto à bondade e à fraternidade que deve existir entre todos os irmãos. Depois da humildade para com Deus, ser caridoso para com o próximo deve ser a primeira Lei de todo Cristão.

5. Mas como entender o significado destas palavras de Jesus: "Bem-aventurados aqueles que são mansos, porque herdarão a Terra", se Ele mesmo havia recomendado renunciar aos bens deste mundo, prometendo os bens do Céu?

Enquanto aguarda os bens do Céu, o homem tem necessidade dos bens da Terra para viver. O que Jesus recomenda é que os bens da Terra não recebam mais importância que os do Céu.

Pelas palavras: "Felizes  aqueles que são mansos, porque herdarão a Terra", Jesus quis dizer que até agora somente os violentas se apossaram dos bens terrenos, em prejuízo daqueles que são mansos e pacíficos. Enquanto os violentos possuem em excesso, para os mansos, frequentemente, falta até o necessário, Jesus lhes promete que a justiça será feita "assim na Terra como no Céu", porque os mansos e pacíficos serão chamados de filhos de Deus. Quando a Lei do Amor e da Caridade for a Lei da Humanidade, não haverá mais egoísmo; o fraco e o pacífico não serão mais explorados pelo forte e pelo violento. Assim será a Terra quando, de acordo com a Lei do Progresso e a promessa de Jesus, ela se tornar um mundo feliz em razão do afastamento daqueles que resistem em praticar o bem.

Instruções dos Espíritos

A Afabilidade e a Doçura
Lázaro - Paris, 1861

6. Aquele que ama o próximo é bondoso para com os semelhantes. Essa bondade se manifesta através da afabilidade e da doçura. Muitos apenas fingem ter a bondade. Utilizam-na apenas como uma máscara para uso externo, como se fosse um traje, cuja aparência bem talhada disfarça as deformidades do corpo! O mundo está cheio desse tipo de pessoas que têm o sorriso nos lábios e o veneno no coração; que são mansas desde que nada as incomode, mas que agridem à menor contrariedade; que transformam-se em dardos venenosos. 

A essa classe pertencem, ainda, os homens que são bondosos quando estão fora de casa, mas que no lar são verdadeiros tiranos, fazendo com que sua família e seus subordinados suportem o peso de seu orgulho e de sua opressão. Compensam, assim, o constrangimento a que se submetem quando estão fora. Não ousando impor sua autoridade aos estranhos, pois estes os recolocariam em seu lugar, querem, pelo menos, ser temidos por aqueles que não podem lhes oferecer resistência. Sua vaidade alegra-se quando podem dizer: "Aqui eu mando e sou obedecido", sem lhes ocorrer que poderiam acrescentar: "e sou detestado".

Não basta que os lábios falem leite e mel, se o coração nada tem a ver com isso; trata-se de pura hipocrisia. Aquele, cuja afabilidade e doçura não são fingidas, nunca se contradiz. É sempre o mesmo, diante da sociedade ou na intimidade, pois ele sabe que pelas aparências pode enganar os homens, mas não pode enganar a Deus.

A Paciência
Um Espírito amigo - Havre, 1862

7. A dor é uma bênção que Deus envia a seus eleitos. Portanto, não se aflijam quando sofrerem, pelo contrário, bendigam a Deus Todo-Poderoso que através da dor neste mundo, concede a oportunidade para que possam evoluir. Vocês foram os escolhidos para entrar no Reino de Deus.

Sejam pacientes. A paciência também é caridade e devem praticar a Lei da Caridade ensinada pelo Cristo, que foi enviado por Deus. A caridade que consiste em dar esmola aos pobres é a mais fácil de todas. Existe outra, bem mais difícil e, por consequência, bem mais meritória, que é a de perdoar aqueles a quem Deus colocou em nosso caminho para serem os instrumentos de nossos sofrimentos e colocar à prova nossa paciência.

Sei que a vida é difícil. Ela pode ser comparada a mil alfinetadas, que acabam por ferir. Se considerarmos os deveres que nos são impostos e as consolações que recebemos em troca, veremos que as bênção são mais numerosas do que as dores. O fardo parece mais leve quando se olha para o alto do que quando se curva a fronte para a Terra.

Coragem, amigos! O Cristo é o modelo de todos. Ele sofreu mais do que qualquer um e não tinha nada do que ser acusado. Já no caso de vocês, existe um passado de culpas a resgatar e um futuro a modificar. Sejam pacientes, sejam Cristãos, essa palavra resume tudo.

Obediência e Resignação
Lázaro - Paris, 1863

8. A doutrina de Jesus ensina sempre a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da doçura. Os homens, erroneamente, confundem ser obedientes e resignados com não possuírem vontade nem sentimentos. A obediência é o uso da razão e a resignação é o uso do coração. Essas duas qualidades, obediência e ser pacientes e resignados. O covarde não é uma criatura resignada, assim como o orgulhoso e o egoísta não podem ser obedientes. Jesus foi a encarnação dessas virtudes que foram desprezadas pelos materialistas sa Antiguidade. Ele veio no momento em que a sociedade romana agonizava, destruída pela corrupção. Veio fazer brilharem no seio da Humanidade, moralmente enfraquecida, os triunfos do sacrifício e da renúncia à sensualidade.

Cada época é marcada pela soma das virtudes que a devem salvar ou pela soma dos vícios que irão fazer com que ela se perca. A virtude da geração de vocês é a atividade intelectual e o seu vício é a indiferença moral. Eu disse atividade intelectual, mas deveria ter dito apenas atividade, porque a atividade é a soma dos esforços de todos os homens comuns para atingir um objetivo apenas razoável, mas que comprova a elevação intelectual de uma época. Já a atividade intelectual é exercida pelo homem que é gênio e que, por possuir uma inteligência bem acima da média, se projeta e descobre sozinho os horizontes que a multidão somente verá muito tempo depois dele.

Submetam-se ao incentivo que viemos trazer ao Espírito de vocês. Submetam-se à grande Lei do Progresso, que é a palavra de ordem dessa geração. Infeliz  do Espírito preguiçoso, daquele que fecha as portas para o entendimento! Infeliz porque nós, que somos os guias da Humanidade em marcha, vamos agir contra sua vontade rebelde e, através do sofrimento, iremos controlá-lo e fazer com que ele nos obedeça. Assim, toda resistência orgulhosa, cedo ou tarde, deverá ceder. Bem-aventurados, portanto, aqueles que são mansos, pois receberão com doçura os ensinamentos.

A Cólera
Um Espírito protetor - Bordeaux, 1863

9. Os homens, levados pelo orgulho, julgam-se mais do que são e não conseguem suportar uma comparação que poderia rebaixá-los. Considerando-se bem acima de seus irmãos, seja em conhecimento, seja pela posição social que ocupam, seja até mesmo pelas vantagens materiais de que desfrutam. Por isso, a menos comparação lhes causa irritação e aborrecimento. E o que acontece, então? Ficam encolerizados.

Procurem a origem desses acessos de demência passageira, que fazem com que se igualem aos brutos, perdendo o sangue-frio e a razão. Procurem o porquê de tal proceder e, quase sempre, encontrarão por base o orgulho ferido. É justamente o orgulho ferido que nos leva a repelirem, cheios de cólera, os mais sensatos conselhos. Até mesmo a impaciência, que tem sua causa nas contrariedades fúteis advém da importância que cada um atribui a sua própria personalidade, perante a qual julgam que tudo e todos devam se curvar.

Em sua loucura, o homem colérico volta-se contra tudo: desde a natureza bruta até os objetos que acaba destruindo por não lhe obedecerem. Ah, se em tais momentos ele pudesse ver-se a sangue-frio, ou teria medo de si mesmo ou se acharia bem ridículo! Que julgue por aí a impressão que deve causar nos outros. Ainda que seja por respeito a si mesmo, deveria esforçar-se para vencer uma tendência que o torna digno de piedade.

Se parasse para pensar, veria que a cólera nada resolve, pois, além de lhe alterar a saúde, compromete sua própria vida, fazendo com que ele se torne sua primeira vítima. Além disso, uma outra consideração deveria contê-lo: a certeza de que faz infelizes todos aqueles que o cercam. Se ele possui coração, não sentirá remorso em fazer sofrer as criaturas a quem mais ama? E que remorso mortal sentiria se, num acesso de raiva, cometesse um ato do qual tivesse que se arrepender pelo resto de sua vida.

Em resumo, o homem que possui temperamento colérico não deixa de ter certas qualidades no coração. Entretanto, a cólera pode ser um empecilho para que ele pratique o bem, e pode levá-lo a praticar o mal. Isso deve ser suficiente para que ele se esforce em dominá-la. O Espírita ainda deve levar em conta uma outra razão: a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs.

Hahnemann - Paris, 1863

10. Segundo a ideia, muito falsam de que o homem não pode alterar sua própria natureza, ele se julga dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos nos quais se satisfaz de bom grado. Para eliminar esses defeitos, o homem precisaria ter perseverança. É assim que o sujeito inclinado à cólera quase sempre encontra desculpas em seu temperamento. Antes de se considerar culpado, atribui a responsabilidade ao seu próprio organismo, acusando a Deus por seus próprios defeitos. É, ainda, uma consequência do orgulho, que se encontra misturado a todas as suas imperfeições.

Não há dúvida de que existem temperamentos que se prestam, mais do que outros, a atos violentos, assim como há músculos mais flexíveis, que se adaptam melhor a certos exercícios físicos. Entretanto, não acreditem que esteja aí a principal causa da cólera e tenham a certeza de que um Espírito violento, num corpo frágil, será sempre violento e arrumará uma maneira de manifestar essa violência. Portanto, se a cólera não encontrar um organismo apropriado ela ficará contida; caso encontre, ela se manifestará.

O corpo não dá a cólera àquele que não possui, assim como também não lhe dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios pertencem à natureza do próprio Espírito. Se não fosse assim, onde estaria o mérito e a responsabilidade? O Espírito não pode fazer com que aquele que possui uma deformidade física torne-se sadio, mas pode modificar para melhor aquilo que é do Espírito, quando é portador de uma vontade firme e determinada.

Espíritas! A experiência não prova até onde vai o poder da vontade pelas transformações verdadeiramente milagrosas que veem acontecer? O homem só permanece vicioso porque quer, pois aquele que deseja se corrigir, sempre encontrará oportunidade; caso contrário, a Lei do Progresso não existiria para o homem.

Comentário

1. Herdar a Terra - Significa permanecer nela após sua mudança de um mundo de provas e expiações para um mundo de regeneração. Essa mudança acontecerá com o afastamento, para planetas mais primitivos que a Terra, dos Espíritos que insitem em fazer o mal.


Um comentário:

  1. Maravilhosa a propaganda dos conhecimentos espíritas, obrigada. É a maior caridade que se faz com a doutrina Espírita.

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