domingo, 17 de abril de 2022

Honrar O Pai E A Mãe

 CAPÍTULO XIV


Honrar O Pai E A Mãe

• Piedade Filial
•  Quem É Minha Mães e Quem São Meus Irmãos?
• Parentesco Corporal E Parentesco Espiritual


Instruções Dos Espíritos:
• A Ingratidão Dos Filhos E Os Laços De Família

1. Jesus disse para aqueles que O escutavam: "Vocês conhecem os mandamentos: Não cometer adultério, não matar, não roubar, não prestar falso testemunho, não fazer mal a ninguém, honrar o pai e a mãe" (Marcos, 10:19, Lucas, 18:20, Mateus, 19:18 e 19).

2. Honrem o pai e a mãe, a fim de viverem muito tempo na Terra que Deus dará a vocês (Decálogo, Êxodo, 20:12)

Piedade Filial

3. O mandamento "honrar o pai e a mãe" é uma consequência da Lei da Caridade e de Amor ao próximo, porque não se pode amar o próximo sem amar ao pai e a mão. O termo "honrar" encerra um dever a mais para com eles: o da piedade filial. Deus quer que ao amor que se deve ter pelos pais se junte o respeito, a atenção, a obediência e a paciência. Assim, é preciso ser mais caridoso e atencioso para com os pais do que para com o próximo de um modo geral. Deve-se ter também o mesmo carinho e atenção para com aqueles que assumem o papel de pai e mãe. O mérito desses pais será proporcional à dedicação que dispensarem a seus filhos não biológicos. Deus sempre pune com rigor toda violação a este mandamento.

Honrar pai e mãe não é somente respeitá-los, é, também, ajudá-los em suas necessidades. É proporcionar a eles o repouso na velhice, cercando-os de cuidados como eles fizeram conosco na infância.

É, principalmente, para com os pais sem recursos que se demonstra a verdadeira piedade filial. Existem filhos que julgam estar cumprindo o mandamento "honrar pai e mãe" dando-lhes apenas o necessário para que não morram de fome, enquanto eles não se privam de nada. Colocam seus pais nos piores cômodos da casa, só para não deixá-los na rua, reservando para si o que há de melhor e mais confortável. Menos mal, quando não o fazem de má vontade, obrigando os pais a fazerem os trabalhos domésticos pelo resto de suas vidas! Caberá aos pais velhos e fracos servirem aos filhos jovens e fortes? Quando eles ainda estavam no berço, sua mãe cobrou-lhes o leite com que os alimentava? Contou quantas vezes deixou de dormir quando estavam doentes? Contou quantos passos deu para lhes proporcionar os cuidados necessários? Não. O que os filhos devem a seus pais pobres não é só o estritamente necessário. Devem dar a eles as pequenas alegrias do supérfluo, as atenções, os cuidados carinhosos, pois estarão apenas retribuindo o amor que receberam e pagando uma dívida sagrada! Essa é a única piedade filial aceita por Deus.

Infeliz daquele que esquece sua dívida para com aqueles que o sustentaram na infância, aqueles que com a vida material lhe deram também a vida moral e que, muitas vezes, se submeteram a duras privações para lhe assegurar o bem-estar. Infeliz do ingrato, porque será punido com a ingratidão e o abandono. Será atingido em suas afeições mais caras, algumas vezes já na vida presente, mas, certamente, em outras existências em que sofrerá o que fez os outros sofrerem. 

É bem verdade que alguns pais descuidam-se de seus filhos e não são para eles o que deveriam ser. Cabe a Deus puni-los. Não cabe aos filhos censurá-los, porque, talvez, eles mesmos fizessem por merecer pais assim. Se a Lei de Caridade manda pagar o mal com o bem, ser indulgente para com as imperfeições alheias, não maldizer seu próximo, esquecer e perdoar as faltas e amar até mesmo os inimigos, quanto maior não deverão ser as obrigações em relação aos pais? Os filhos devem, portanto, tomar como regra de conduta para com os pais, todos os ensinamentos que Jesus recomenda para com o próximo; também devem estar cientes de que toda conduta condenável em relação a estranhos é ainda mais condenável em relação aos pais. O erro que se comete em relação a estranhos pode ser considerado apenas uma falta leve, mas o mesmo erro cometido em relação aos pais pode ser considerado um crime, pois, nesse caso, existe falta de caridade e ingratidão.

4. Nos Dez Mandamentos está escrito: Honrem o pai e a mãe, a fim de viverem por muito tempo na Terra que Deus dará a vocês.

Por que Deus promete recompensa a vida na Terra e não a vida no Céu? A explicação encontra-se nesta frase: "que Deus dará a vocês", que foi suprimida dos Dez Mandamentos na versão moderna da Bíblia. O trecho que permaneceu foi: "Honrem o pai e a mãe, a fim de viverem muito tempo na Terra". Ao suprimir i trecho: "que Deus dará a vocês", o sentido do ensinamento ficou completamente alterado. Para compreender melhor essas palavras, é preciso voltar ao tempo em que elas foram pronunciadas, entender como os hebreus viviam e qual eram suas ideias e seus pensamentos na época. Eles não compreendiam ainda a vida futura, e seu entendimento não ia além da vida presente. Portanto, deviam ser mais sensibilizados pelas coisas que viam do que pelas coisas que não viam. É por isso que Deus fala com os hebreus utilizando uma linguagem que estivesse ao seu alcance como se estivesse falando com crianças e dando-lhes uma perspectiva que poderia satisfazê-los. Eles estavam ainda no deserto. A Terra que Deus lhes dará é a Terra Prometida, objeto de suas aspirações. Eles não desejavam nada além disso e Deus lhes diz que viveriam lá por muito tempo, ou seja, que eles a possuiriam se cumprissem Seus mandamentos.

Quando Jesus chegou, as ideias dos hebreus já estavam mais desenvolvidas e era então o momento de receberem um esclarecimento maior. Jesus os inicia na vida espiritual dizendo: "O Meu Reino não é deste mundo e será nele, e não na Terra, que receberão a recompensa por suas boas obras". Com essas palavras, a Terra Prometida deixa de ser Material e passa a ser uma Pátria Espiritual. Assim, quando Jesus lhes recomenda o respeito pelo mandamento: "Honrar o pai e a mãe, já não é mais a Terra que Ele promete, e sim o Céu (ver, nesta obra, os cap. 2 e 3).

Quem é Minha Mãe E Quem São Meus Irmãos?

5. Quando Jesus chegou em casa, lá reuniu-se uma multidão tão grande de pessoas que nem mesmo puderam completar sua refeição. Ao saberem disso, seus parentes saíram para prendê-lo, pois diziam: "Ele perdeu o Espírito".

Sua mãe e Seus irmãos chegaram, e, ficando do lado de fora, mandaram chamá-Lo. O povo que estava sentado ao seu redor lhe disse: "Sua mãe e seus irmãos estão lá fora e chamam por Você". Jesus, então, respondeu: "Quem é Minha mãe e quem são Meus irmãos?". E olhando para aqueles que estavam ao Seu redor, disse: "Eis, aqui, Minha mãe e Meus irmãos, pois quem quer que faça a vontade de Deus, é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe" (Marcos, 3:20, 21 e 31 1 35, Mateus, 12:46 a 50).

6. Certas palavras ditas por Jesus parecem estranhas e não combinam com sua bondade e meiguice. Os incrédulos aproveitaram a ocasião para dizer que Jesus estava se contradizendo. Sua Doutrina baseia-se principalmente na Lei do Amor e da Caridade, sendo assim, não é possível que Ele destruísse de um lado o que tinha estabelecido de outro. Se alguns ensinamentos estão em contradição com a Lei do Amor e da Caridade, surge uma consequência inevitável: as palavras atribuídas a Jesus foram mal traduzidas, mal compreendidas ou não Lhe pertencem.

7. É mesmo de se admirar que nessa passagem Jesus mostre tanta indiferença para com seus parentes e, de certo modo, renegue Sua mãe.

Em relação a Seus irmãos, sabe-se que eles nunca tiveram simpatia por Jesus. Eram Espíritos pouco adiantados e não compreendiam Sua missão. Achavam Sua conduta estranha e Seus ensinamentos não os convenciam, tanto que nenhum deles tornou-se Seu discípulo. Até certo ponto, concordavam com as prevenções que os inimigos de Jesus tinham contra Ele. Em família, ele O tratavam mais como um estranho do que como um irmão. É o Apóstolo Joao quem afirma claramente: "Os irmãos de Jesus não acreditavam Nele" (João cap. 7:5).

Quanto a sua mãe, ninguém poderá contestar a ternura que dedicava ao filho, mas é preciso deixar claro que ela também não fazia uma ideia exata de Sua missão. Até onde se sabe, ela nunca seguiu Seus ensinamentos, nem deu testemunho deles, como fez João Batista. O cuidado maternal era seu sentimento dominante. Quanto a Jesus, imaginar que Ele pudesse ter renegado Sua mãe, seria desconhecer-lhe o caráter. Tal pensamento não poderia partir Daquele que disse: "Honrem o pai e a mãe". É preciso procurar um outro significado para as palavras de Jesus, quase sempre encobertas pela forma figurada de falar.

Jesus não perdia nenhuma oportunidade para transmitir um ensinamento. Aproveitou a chegada de Sua família para estabelecer a diferença que existe entre o parentesco corporal e o parentesco espiritual.


Parentesco Corporal E Parentesco Espiritual


8. Os laços de sangue não estabelecem necessariamente as ligações entre os Espíritos. O corpo origina-se do corpo, mas o Espírito não se origina do Espírito, uma vez que ele já existia antes da formação do corpo. Não são os pais que criam o Espírito do filho, eles apenas lhe fornecem o corpo de carne. Além de gerar o corpo, os pais são responsáveis pelo desenvolvimento intelectual e moral dos filhos, ajudando-os a progredir.

Os Espíritos que encarnam numa mesma família, como parentes próximos, são quase sempre Espíritos simpáticos entre si e unidos por relações anteriores. Essas relações se manifestam pela afeição que existe entre eles durante a vida terrena. Pode acontecer, também, que os Espíritos sejam completamente estranhos uns aos outros ou separados por antipatias igualmente anteriores, e que se manifestam por aversões mútuas. Enquanto estiverem encarnados na Terra, essa aversões serão para eles uma grande provação. Os verdadeiros laços de família não são os laços de sangue, mas sim os laços de simpatia e afinidade de pensamentos, que unem os Espíritos, antes, durante e depois da encarnação. É por isso que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito do que pelo sangue. Eles se querem, se procuram e sentem prazer por estarem juntos, enquanto que dois irmãos de sangue podem repelir-se, conforme se observa todos os dias. É um problema moral que só o Espiritismo pode explicar através das diversas existências vividas pelos Espíritos (ver cap. 4:13).

Existem, portanto, duas espécies de famílias: as famílias por Laços Espirituais e as famílias por Laços Corporais. As famílias que se unem por Laços Espirituais possuem um relacionamento duradouro e se fortalecem pela purificação de seus membros. Assim, elas continuarão se relacionando no Mundo dos Espíritos e na Terra, por meio das inúmeras encarnações da alma. A união das famílias por Laços Corporais é frágil como a própria matéria e termina com o tempo. Muitas vezes essa união se desfaz, moralmente, já na existência atual. Foi isto que Jesus quis ensinar quando disse a Seus discípulos: "Eis, aqui, Minha mãe e Meus irmão", ou seja, minha família pelos Laços do Espírito, "pois quem quer que faça a vontade de Meu Pai, que está nos Céus, é Meu irmão, Minha irmã e Minha Mãe".

A hostilidade dos irmãos de Jesus está claramente expressa no relato do Apóstolo Marcos, quando ele diz: "Os irmãos de Jesus tinham a intenção de se apoderarem Dele, sob o pretexto de que Ele estava louco". Jesus, informado da chegada de Seus parentes e sabendo o que eles pensavam a Seu respeito, aproveita a oportunidade para transmitir a Seus discípulos o ensinamento sobre o ponto de vista da família Espiritual, ao dizer: "Eis, aqui, Meus verdadeiros irmãos", embora na companhia dos irmãos de Jesus estivesse também Sua mãe. Ele utiliza a ocasião para explicar que os verdadeiros irmãos são aqueles que se unem pelos Laços Espirituais e não pelos Laços de Sangue. Não se deve entender, com isso, que Sua mãe, segundo o sangue, não Lhe significasse nada, segundo o Espírito, ou que tinha por ela indiferença. Sua conduta em outras ocasiões comprova suficientemente o contrário.

Instruções dos Espíritos

A Ingratidão Dos Filhos E Os Laços De Família
Santo Agostinho - Paris, 1862.

9. A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo e revolta sempre os corações honestos. Entretanto, a ingratidão dos filhos em relação aos pais tem um caráter ainda mais odioso. É particularmente sob o ponto de vista da ingratidão dos filhos para com os pais que faremos a análise de suas causas e de seus efeitos. Também nessa questão, como em tantas outras, o Espiritismo vem esclarecer um dos grandes problemas do coração humano.

Quando o Espírito deixa a Terra, leva consigo as paixões e as virtudes próprias de sua natureza. Retorna ao Plano Espiritual para se aperfeiçoar ou permanecer estacionário até que deseje se esclarecer. Muitos desencarnam levando consigo grandes ódios e desejos de vinganças que não puderam executar. Os que estão mais evoluídos conseguem perceber uma parte da verdade. Compreendem, então, os efeitos danosos de suas paixões e procuram se melhorar, reconhecendo que para chegar até Deus só existe um caminho: a caridade. Porém, não existe caridade sem o esquecimento das ofensas e das injúrias, não existe caridade com ódio no coração, e não existe caridade sem perdão.

Então, com um esforço muito grande, eles olham aqueles a quem odiaram na Terra, e essa visão desperta seu rancor. A ideia de perdoar e amar aqueles que destruíram, talvez, sua fortuna, sua honra, sua família, lhes revolta. Assim, o coração desses infelizes está abalado. Eles hesitam, vacilam, agitados por sentimentos contrários. Uma vez que o Espírito toma a decisão de encarnar entre inimigos de vidas passadas, ele roga a Deus e aos bons Espíritos auxílio para enfrentar e vencer a prova.

Após anos de meditação e prece, o Espírito aproveita-se de um corpo que está em preparo e pede aos Espíritos encarregados de transmitir as ordens superiores permissão para reencarnar na família daquele a quem detestou. Realizará, na Terra, o destino daquele corpo que acaba de se formar. Qual será, então, sua conduta nessa família? Ela dependerá da maior ou menor persistência em cumprir as resoluções tomadas antes de reencarnar. O contato incessante com aqueles a quem odiou é uma prova terrível, e muitas vezes o Espírito fracassa se não tiver uma vontade bastante forte. Assim, conforme prevaleçam ou não as boas decisões que tomou, ele será amigo ou permanecerá inimigo daqueles em cujo meio veio viver. É desse modo que se explicam os ódios, as repulsas instintivas que se notam em certas crianças e que nenhum ato anterior consegue justificar. Para compreender essa antipatia é necessário voltar os olhos ao passado, pois não existe nenhum fato, nessa nova existência, que possa explicá-la.

Espíritas! Compreendam o grande papel da Humanidade, compreendam que quando se gera um corpo, a alma que nele reencarna vem do Plano Espiritual para progredir. Cumpram com seus deveres e façam o que for possível para aproximar essa alma de Deus, mas façam com muito amor. Esta é a missão que foi confiada a vocês, e serão recompensados se cumprirem fielmente. Os cuidados, a educação que vão lhe dispensar, ajudarão no seu aperfeiçoamento e no seu bem-estar futuro. A cada pai e a cada mãe, Deus perguntará: "O que fizeram do filho que lhes foi confiado?". Se permaneceu atrasado por culpa de vocês, seu castigo será vê-lo entre os Espíritos sofredores, pois sua felicidade dependia da dedicação que dispensariam a ele. Então, atormentados pelo remorso, pedirão oportunidade para repararem a falta. Solicitarão uma nova encarnação para ambos, na qual irão criá-lo com o maior cuidado, e ele, cheio de reconhecimento, irá retribuí-los com seu amor.

Não rejeitem, portanto, o filho que no berço repele a mãe, nem aquele que só sabe pagar com a ingratidão o que recebe. Não foi o acaso que o fez assim, como também não foi o acaso que o enviou para que dele cuidassem. É o passado que está se revelando e, através dele, podem deduzir que um ou outro já odiou muito ou foi muito ofendido. Que um ou outro veio para perdoar, ou para expiar as desavenças de vidas anteriores. Mães! Abracem o filho que lhes causa desgosto e digam para vocês mesmas: "Um de nós é culpado". Façam por merecer os prazeres da maternidade, ensinando a seus filhos que eles estão na Terra para se aperfeiçoar e parar aprender a amar. Muitas mães, em vez de combaterem pela educação, os maus princípios de nascença provenientes de existências anteriores, mantêm e desenvolvem esses mesmos princípios, por serem fracas no agir ou por serem negligentes. Mais tarde, com o coração amargurado pela ingratidão dos filhos, sofrerão, já nesta vida, o começo de suas expiações.

A tarefa não é tão difícil quanto podem pensar, pois ela não exige cultura. Tanto o ignorante quanto o sábio podem cumpri-la. O Espiritismo vem facilitá-la, ensinando-nos a causa das imperfeições humanas.

Desde o nascimento, a criança manifesta os instintos bons ou os maus que traz de suas existências anteriores. É preciso aplicar-se em estudá-los. Todos os males têm origem no egoísmo e no orgulho. Cabe aos pais observar e combater os menores sinais de a manifestação desses vícios, sem esperar que criem raízes profundas. Façam como o bom jardineiro, que arranca os brotos daninhos à medida que os vê aparecerem na árvore. Se deixarem que o egoísmo e o orgulho se desenvolvam, não se espantem, mais tarde, se forem pagos com a ingratidão.

Quando os pais fazem tudo o que podem para o adiantamento moral dos filhos, e ainda assim não alcançam êxito, suas consciências devem ficar tranquilas e o desgosto que sentem por verem todos os seus esforços fracassados é natural. Deus lhes reserva uma imensa consolação, na certeza de que isso é apenas um atraso momentâneo desse Espírito. Será permitido aos pais terminarem, em uma outra existência, a obra começada nessa, e um dia o filho ingrato os recompensará com seu amor (veja, nesta obra, cap. 13:19)

Deus não dá a prova acima das forças daquele que a pede. Ele apenas permite aquelas que podem ser cumpridas. Se fracassamos, não é por falta de condições, mas por falta de vontade. Existem muitos que em vez de resistirem aos maus pensamentos, neles se comprazem. É para esses que estão reservados o choro e os sofrimentos em existências posteriores. Admirem, portanto, a bondade de Deus, que nunca fecha as portas ao arrependimento.

Chegará o dia em que o culpado, cansado de sofrer, com seu orgulho dominado, pedirá ajuda. Só então Deus abrirá Seus braços paternais para o filho pródigo, que se lançará a Seus pés. As grandes provações, quando aceitas com o pensamento em Deus, quase sempre indicam o fim de um sofrimento e, por consequência, um aperfeiçoamento para o Espírito. É um momento supremo, e o Espírito não deve se lamentar se não quiser perder o fruto da prova e ter que recomeçá-la. Em vez de reclamarem, agradeçam a Deus pela oportunidade de poderem vencer e receber o prêmio pela vitória. Quando saírem da vida terrena e entrarem no Mundo dos Espíritos, serão aclamados como o soldado que sai vitorioso da batalha.

As provas mais difíceis são aquelas que afetam o coração. Existem aqueles que suportam com coragem a miséria e as privações materiais, mas abatem-se aos peso das amarguras domésticas, atormentados pela ingratidão dos seus. Que angústia terrível! Nesses casos, mais que o conhecimento das causas do mal, a certeza de que não existem sofrimentos eternos é que ajuda a reerguer a coragem moral, porque Deus não quer que Sua criatura sofra para sempre. O que pode existir de mais consolador e encorajador do que saberem que depende apenas de seus próprios esforços abreviar o sofrimento, destruindo em vocês mesmos as causas do mal? Para isso, não poderão observar apenas uma existência terrenas; será necessário elevarem-se a ponto de abrangerem a percepção do passado e do futuro. Então, a Justiça infinita de Deus se revelará aos seus olhos e passarão a encarar a vida com paciência, pois terão a explicação do que parecia uma monstruosidade na Terra; as feridas que suportaram parecerão arranhões. Olhando para o conjunto das várias existências, os laços de família aparecem como realmente são. Já não são mais os laços frágeis da matéria que reúnem os seus membros, mas sim, os laços duráveis do Espírito que se perpetuam, se consolidam e se purificam, em vez de se romperem pelo efeito da reencarnação.

Os Espíritos que buscam o progresso moral e possuem semelhanças de gostos e afeições, reúnem-se, formando famílias. Esses Espíritos, quando retornam à Terra, procuram se agrupar como faziam no Mundo Espiritual, dando origem a famílias unidas e homogêneas. Se nas suas idas e vindas ficarem temporariamente separados, mais tarde eles se encontram e ficam felizes pelos novos progressos realizados. Entretanto, como não devem trabalhar apenas para si mesmos, Deus permite que Espíritos mais atrasados venham encarnar-se entre eles, a fim de receberem conselhos e bons exemplos para progredirem. Esses Espíritos, atrasados, geralmente, causam perturbações no ambiente dos Espíritos mais evoluídos, o que constitui, para estes, uma prova a ser suportada. Portanto, acolham e os ajudem como irmãos, e mais tarde, no mundo dos Espíritos, a família se alegrará por ter salvo alguns náufragos, que, por sua vez, poderão salvar outros.

Comentários

5. Perder o Espírito - Na época de Jesus, essa expressão significava "estar louco".

9. A Parábola do filho pródigo - (Ver cap. 7.10)

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