quarta-feira, 6 de abril de 2022

Que A Sua Mão Esquerda Não Saiba o Que Faz A Sua Mão Direita

CAPÍTULO XIII

Que A Sua Mão Esquerda Não Saiba o Que Faz A Sua Mão Direita

• Fazer O Bem Sem Ostentação
•  Os Infortúnios Ocultos
• O Óbolo Da Viúva
• Convidar Os Pobres E Os Estropiados - Ajudar
Sem Esperar Recompensa
 

Instruções Dos Espíritos:
• A Caridade Material E A Caridade Moral
 • A Beneficência • A Piedade • Os Órfãos
• Benefícios Pagos Com Ingratidão • Beneficência Exclusiva

Fazer O Bem Sem Ostentação

1. Tomem cuidados para não fazerem suas boas obras diante dos homens, para que elas não sejam vistas por eles, porque assim não serão recompensados por Deus. Quando derem uma esmola, não façam alarde, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem honrados pelos homens. Em verdade, Eu digo a vocês que eles já receberam sua recompensa. Quando derem uma esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que faz a sua mão direita, a fim de que a esmola fique em segredo e Deus, que vê o que se passa em segredo, os recompensará (Mateus, 6:1 a 4).

2. Uma grande multidão seguia Jesus quando Ele descia da montanha. Nesse momento, um leproso veio ao Seu encontro e, respeitosamente, Lhe disse: "Senhor, se quiser, poderá me curar.". Jesus, estendendo a mão, tocou-o e disse: "Assim Eu quero, fica curado!". E, no mesmo instante, a lepra foi curada. Depois, Jesus lhe disse: "Procura não flar sobre esse assunto a quem quer que seja, mas vai mostrar sua cura aos sacerdotes, a fim de que ela sirva de testemunho a eles. Depois disso, você poderá fazer sua oferenda, conforme prescreveu Moisés." (Mateus, 8:1 a 4).

3. Fazer o bem sem ostentação é um grande mérito. Ocultar a mão que dá é ainda mais louvável. É sinal incontestável de uma grande superioridade moral. Para compreender as coisas mais elevadas, acima do conhecimento comum do povo, é preciso elevar-se acima da vida presente. É preciso colocar-se acima da Humanidade para renunciar à satisfação que o aplauso dos homens proporciona, e preocupar-se somente com a aprovação de Deus. Aquele que prefere ser aprovados pelos homens, em vez de ser aprovado por Deus, demonstra possuir mais fé nos homens do que em Deus. Para ele, a vida presente é mais importante do que a vida futura, ou, melhor, ele não acredita na vida futura. Se disser o contrário, age como se não acreditasse no que diz.

Quantas pessoas ajudam apenas na esperança de que essa ajuda tenha grande repercussão. Que, em público, dariam grandes somas em dinheiro, e que, sozinhas, não dariam sequer uma moeda! Foi por isso que Jesus disse: "Aqueles que fazem o bem com ostentação, já receberam sua recompensa.". Aquele que procura sua glorificação na Terra pelo bem que fez, já pagou a si mesmo; Deus nada mais lhe deve; resta-lhe apenas receber a punição pelo seu orgulho.

"Que a sua mão esquerda não saiba o que faz a sua mão direita" é um ensinamento que caracteriza, admiravelmente, a caridade praticada com modéstia. Entretanto, se existe a verdadeira caridade, também existe a falsa, isto é, aquela modéstia que fica só na aparência. Existem pessoas que escondem a mão que dá, tendo o cuidado de deixar aparecer uma parte de sua ação, na esperança de que alguém observe o que estão fazendo. Ato ridículo em relação aos ensinamentos do Cristo. Se os benfeitores orgulhosos já são desconsiderados entre os homens, imaginem o quanto não serão diante de Deus. Eles também já receberam sua recompensa na Terra. Foram vistos e ficaram satisfeitos por terem sido vistos. É tudo o que terão.

Qual será a recompensa daquele que faz com que o seu irmão sinta o peso do benefício recebido? que lhe exige demonstrações de reconhecimento? Que faz com que ele sinta sua posição inferior ao ressaltar os sacrifícios que precisou passar para beneficiá-lo? Oh! Para esse, nem mesmo a recompensa terrena existe, pois é privado da satisfação de ouvir outras pessoas falando bem de seu nome. Esse é o primeiro castigo para seu orgulho. As lágrimas que ele seca ao beneficiar os outros servem apenas para satisfazer sua vaidade e, em vez de subirem ao Céu, recaem sobre o coração do beneficiado, ferindo-o ainda mais. O bem que realizou não lhe traz nenhum proveito, pois ele lamenta ter feito esse bem, e todo bem que é lamentado não possui valor algum.

Fazer o bem sem ostentação tem um duplo mérito, pois além, de ser caridade material é também caridade moral. Quem age dessa maneira, respeita os sentimentos do beneficiado. Faz com que ele aceite o benefício, sem ferir seu amor-próprio, resguardando, assim, sua dignidade humana. Existem pessoas que aceitam um serviço mas recusam uma esmola. Converter um serviço em esmola, pela maneira como ele é realizado, é humilhar aquele que o recebe, e sempre existirá orgulho e maldade em humilhar alguém. A verdadeira caridade, ao contrário, é habilidosa e disfarça, de modo sutil, o benefício, evitando, assim, a menor possibilidade de melindre, uma vez que toda ofensa moral aumenta ainda mais o sofrimento do necessitado. Ela também sabe encontrar palavras doces e afáveis que deixam o beneficiado à vontade diante do benfeitor, enquanto que a caridade orgulhosa o humilha. A verdadeira generosidade encontra seu ponto mais sublime quando o benfeitor, invertendo os papéis, encontra um meio de parecer ser ele próprio o beneficiado perante aquele a quem está ajudando. É isso o que significam essas palavras de Jesus: "Que a sua mão esquerda não saiba o que faz a sua mão direita.".



Os Infortúnios Ocultos

4. Nas grandes calamidades, a caridade se manifesta e observamos campanhas nobres e generosas para diminuir o efeito desses infortúnios. Sempre ao lado dessas tragédias coletivas, existem milhares de tragédias particulares que passam despercebidas: é o caso das pessoas que permanecem num leito de dor sem se queixa. São esses os infortúnios ocultos que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que venham lhe pedir assistência.

Quem é esta mulher com ar distinto, vestida de maneira simples, embora bem cuidada, acompanhada de uma jovem que também se veste modestamente? Chega numa casa de aspecto miserável, onde, sem dúvida, é conhecida, porque, ao entrar, é cumprimentada com respeito. Para onde ela vai? Sobe até um quarto humilde, onde mora uma mãe de família, cercada por criancinhas. A sua chegada é motivo de alegria para aquelas crianças emagrecidas. É porque ela vem acalmar todas as dores. Traz o necessário, pois vem acompanhada de palavras consoladoras, fazendo com que seus protegidos, que não são mendigos profissionais, aceitem o benefício sem constrangimentos. O pai está no hospital e, durante esse tempo, a mãe não pode suprir as necessidades da família. Graças a essa senhora, as crianças não sofrerão, nem com o frio, nem com a fome, Irão à escola bem agasalhadas e no seio da mãe não faltará o leite para amamentar os pequeninos. Se alguma criança adoecer, ela não terá dúvidas em tratá-la. Dali vai ao hospital, levar ao pai algum consolo e tranquilizá-lo sobre a situação de sua família. Na esquina, uma carruagem a espera, verdadeiro armazém de tudo o que doa a seus protegidos, que frequentemente costuma visitar. Ela não lhes pergunta qual sua crença, nem qual sua opinião, pois considera todos os homens irmãos e filhos de Deus. Quando termina a visita, ela diz a si mesma: Comecei bem o meu dia. Qual é o seu nome? Onde mora? Ninguém sabe dizer. Para os infelizes, apesar de ser um nome desconhecido, é o anjo da consolação. À noite, um cântico de bênçãos se eleva por ela até o Criador. Católicos, judeus, protestantes, todos a querem bem.

Por que ela se veste de maneira tão simples? É para não insultar a miséria com seu luxo. Por que se faz acompanhar de sua jovem filha? É para que ela aprenda como se deve praticar a caridade. Sua filha também quer fazer o bem, mas sua mãe lhe diz: "O que você pode dar minha filha, se nada tem para oferecer?". Se eu lhe passar alguma coisa para dar aos outros, qual será o seu mérito? Na realidade, serei eu quem estará fazendo a caridade e você receberá o mérito, o que não é justo. Quando visitarmos os doentes, você vai me ajudar a cuidar deles, pois dispensar cuidados já é dar alguma coisa. Aprenda a costurar e poderá fazer roupas para essas crianças, assim, dará algo que vem de você. Isso não lhe parece suficiente? É assim que esta mãe, verdadeiramente cristã, prepara sua filha para praticar as virtudes que o Cristo ensinou. É espírita? O que importa?

Para a sociedade, é uma mulher do mundo, pois sua posição assim o exige. Mas ninguém sabe o que ela faz, pois não quer outra aprovação senão a de Deus e da sua consciência. Certo dia, um acontecimento imprevisto levou até sua casa uma de suas protegidas que andava a vender bordados. Esta, ao reconhecê-la, quis pedir sua bênção. "Silêncio!", disse ela. "Não contes nada a ninguém!". Assim também falava Jesus.


O Óbulo da Viúva

5. Jesus sentou-se em frente ao gazofilácio para observar de que modo o povo colocava ali o seu dinheiro. Depois de algum tempo, percebeu que as pessoas ricas depositavam grandes quantidades. Veio, então, uma pobre viúva que depositou apenas duas pequenas moedas. Vendo isso, Jesus chamou Seus discípulos e lhes disse: Em verdade, Eu digo a vocês que esta pobre viúva deu mais do que todos aqueles que antes depositaram suas dádivas no gazofilácio. Enquanto todos os outros deram do que sobrava de sua abundância, a viúva deu do que lhe fazia falta, deu mesmo tudo o que tinha para o seu sustento (Mateus, 12:41 a 44; Lucas, 21:1 a 4).

6. Muitas pessoas lamentam não poder fazer todo o bem que gostariam, por não possuírem recursos suficientes. Desejam a riqueza, dizem elas, para utilizar em benefício dos outros. Sem dúvida, a intenção é louvável e, talvez, muito sincera por parte de alguns, mas será que é totalmente sincera e desinteressada por parte de todos? Não existiriam aqueles que, desejando fazer o bem aos outros, não hesitariam em começar por si mesmos? Permitindo-se alguns prazeres a mais, comprando coisas supérfluas que hoje não possuem, sob a condição de dar o restante aos pobres? Esta segunda intenção, que se encontra escondida no fundo do coração, de fazer o bem aos outros pensando primeiro em si, é a que anula o mérito da intenção. O homem que pratica a verdadeira caridade pensa primeiro nos outros para depois pensar em si mesmo.

A beleza da caridade está em procurar no seu trabalho, no emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos, os recursos necessários para realizar o bem ao próximo. Aí está o sacrifício mais agradável ao Senhor. Infelizmente, a maioria das pessoas sonha com um meio fácil de enriquecer rapidamente e, se possível, sem esforço. Correm atrás de ilusões, como a descoberta de tesouros, o recebimento de heranças inesperadas, o surgimento de uma oportunidade favorável, e assim por diante. O que dizer daqueles que esperam que os Espíritos lhes auxiliem na busca de coisas desse tipo? Certamente não conhecem o sagrado objetivo do Espiritismo e, muito menos, a missão dos Espíritos, aos quais Deus permite que se comuniquem com os homens. Essas pessoas são, geralmente, punidas com grandes decepções (ver Livro dos Médiuns, questões 294 e 295).

Aqueles cuja intenção é desprovida de todo e qualquer interesse pessoal devem se consolar em não poder fazer todo bem que gostariam. Devem lembrar que a esmola do pobre, que dá privando-se do necessário, pesa mais na balança de Deus do que o ouro do rico, que dá sem se privar de coisa alguma. A satisfação seria grande em poder socorrer amplamente a pobreza, mas, se isso não é possível, é preciso limitar-se a fazer o que se pode. Aliás, não é apenas com dinheiro que se pode secar as lágrimas e não é preciso ficar sem ação por não ter dinheiro! Aquele que quer ajudar seu irmão, com sinceridade, encontra mil maneiras de fazê-lo. Se não for de um jeito, será de outro, pois não existe ninguém que, sendo normal, não possa prestar um serviço, consolar alguém, aliviar um sofrimento físico ou moral, tomar uma providência que seja útil. Na falta de dinheiro, cada um possui seu trabalho, seu tempo, seu repouso, dos quais pode dar uma pequena parcela em benefício de seus irmãos mais necessitados. Ajudar dessa forma pode ser comparado com a que a viúva depositou no gazofilácio, segundo o ensinamento de Jesus.


Convidar Os Pobres E Os Estropiados - Ajudar
Sem Esperar Recompensa

7. Jesus também disse para aquele que O tinha convidado: "Quando você der um banquete, não convide seus amigos, nem seus irmão, parentes, ou vizinhos que forem ricos, para que não aconteça que também eles o convidem, retribuindo, assim, o que receberam. Quando oferecer um banquete, convide os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos, e você será feliz, porque eles não terão como lhe retribuir. Sua recompensa virá nas encarnações futuras.".

Um daqueles que estavam à mesa, tendo ouvido essas palavras, disse a Jesus: "Feliz daquele que comer o pão no Reino de Deus!" (Lucas, 14:12 a 15).

8. Jesus disse: "Quando você oferecer um banquete, não convide seus amigos, mas sim os pobres e os estropiados.". Essas palavras, que parecem absurdas, se levadas ao pé da letra, são sublimes quando entendemos o seu verdadeiro sentido, Jesus não quis dizer que em vez dos amigos é necessário reunir à mesa os mendigos da rua. Sua linguagem era quase sempre figurada e, para os homens daquela época, incapazes de entender as sutilezas mais delicadas do pensamento, eram necessárias imagens mais fortes, como, convidar estropiados em vez de amigos. A essência do pensamento de Jesus se revela nessas palavras: "E você será feliz, porque eles não têm com o que lhe retribuir.". Isto quer dizer que não se deve fazer o bem pensando em uma retribuição, mas sim pelo simples prazer de fazê-lo. Para tornar clara a comparação, Jesus diz: "Convida os pobres para o seu banquete, pois você sabe que eles não podem lhe retribuir.". E por banquete é preciso entender não a refeição propriamente dita, mas a participação na abundância daquilo que você desfruta.

Todavia, esse ensinamento de Jesus pode ser aplicado num sentido mais verdadeiro. Quantas pessoas convidam para sentar a sua mesa somente aqueles que podem lhes honrar com sua presença ou que podem retribuir-lhes o convite! Todos nós possuímos amigos e parentes menos afortunados e muitos sentem grande satisfação em recebê-los. Essa é a forma de ajudá-los, disfarçadamente, sem que eles percebam. Essa pessoas, sem precisarem ir recrutar os cegos e os estropiados, praticam o ensinamento de Jesus, pois o fazem por bondade, sem ostentação, e sabem disfarçar o benefício por meio de uma sincera cordialidade.


Instruções dos Espíritos

A Caridade Material E A Caridade Moral

Irmã Rosália - Paris, 1860


9. "Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem." Toda religião e toda moral se encontram contidas nesses dois ensinamentos. Se eles fossem seguidos, aqui na Terra, todos seriam felizes, pois não haveria ódios, nem conflitos, nem ressentimentos e, principalmente, não haveria pobreza, porque daquilo que sobra da mesa dos ricos, muitos pobres se alimentariam. Assim, vocês não veriam mais, nos bairros sombrios em que vivi, durante a minha última encarnação, pobres mulheres arrastando consigo crianças miseráveis, necessitadas de tudo.

Ricos! Pensem um pouco em tudo isso. Ajudem os infelizes com o melhor que puderem. Deem, para que, um dia, Deus possa retribuir o bem que fizeram, e para que possam encontrar, quando desencarnarem, um grande número de Espíritos agradecidos que irão recebê-los na fronteira de um mundo mais feliz.

Se pudessem imaginar a alegria que senti aos encontrar, no Além, aqueles a quem pude ajudar em minha última encarnação terrena!

Portanto, amem ao próximo. Amem como amariam a vocês mesmos, pois agora sabem que o infeliz que afastam pode ter sido, outrora, um irmão, um pai, um amigo que agora rejeitam. Qual não será o desespero de vocês ao reconhecê-lo no mundo dos Espíritos!

Espero que tenham entendido bem o que deve ser a caridade moral, aquela que qualquer um pode fazer, porque não custa dinheiro e, ainda assim, é a mais difícil de ser praticada.

A caridade moral consiste em se tolerarem uns aos outros, e é o que menos fazem nesse mundo inferior onde estão encarnados atualmente. Possui um grande mérito, acreditem em mim, o homem que sabe calar-se para deixar falar um outro que seja mais tolo que ele. Agir assim é uma forma de praticar a caridade. Não deem ouvidos quando uma palavra de menosprezo escapa de uma boca acostumada a zombar. Ignorem o sorriso desdenhoso com que muitos os recebem, por se acreditarem superiores. Na vida espiritual, que é a única real, essas pessoas, frequentemente, estão muito abaixo de vocês. Proceder dessa forma não é ser humilde, mas caridoso, pois não observar o erro dos outros é uma forma de praticar a caridade moral.

Entretanto, a caridade moral não deve impedir a caridade material. Cuidem para não desprezar o seu semelhante. Lembrem-se do que eu disse: "O pobre que hoje rejeitam, pode ter sido um Espírito que foi muito importante para vocês em outra vida, e que, momentaneamente, se encontra em uma posição inferior.". Tive a oportunidade de reencontrar, na Vida Espiritual, um dos pobres a quem pude, por felicidade, ajudar algumas vezes na Terra, e a quem hoje me cabe implorar por seu auxílio.

Lembrem-se de que Jesus disse que somos todos irmãos, e pensem sempre nisso antes de rejeitarem o indigente ou o mendigo. Adeus, pensem naqueles que sofrem e orem por eles!

Um Espírito Protetor - Lyon, 1860.

10. Meus amigos, tenho ouvido muitos dizerem: "Como posso fazer a caridade, se muitas vezes nem mesmo tenho o necessário?"

A caridade pode ser feita de mil maneiras. Podem praticá-la por pensamento, por palavras e por ações. Como praticar a caridade por pensamento? Orando pelos pobres abandonados que morreram sem terem podido viver com dignidade. Um prece vinda do coração os aliviará.

Como praticar a caridade por palavras? Dirigindo, ao companheiros do dia a dia, conselhos benéficos. Dizendo aos homens amargurados pelo desespero, pelas privações e que, por isso, ofendem a Deus: "Eu era como vocês, sofria e me considerava infeliz, mas acreditei no Espiritismo e hoje sou feliz.". Aos velhos que dizem: "É inútil, estou no fim da vida, vou morrer como vivi.", respondam assim: "A Justiça de Deus é igual para todos, lembrem-se dos trabalhadores da última hora.". Digam às crianças, que já estão viciadas pelas más companhias, e que, prestes a ceder às más tentações, se perderão pelo mundo: "Deus toma conta de vocês, meus queridos pequenos.", e não temam em repetir, sempre, para elas, essas doces palavras. Elas acabarão sendo assimiladas por suas jovens inteligências, e, em vez de pequenos vagabundos, terão feito homens de bem. Isso também é fazer a caridade.

Como praticar a caridade por ações? Oferecendo aos irmãos um sorriso, tendo para com eles um gesto afetuoso, dispensando-lhes singelas atenções, prestando-lhes pequenos favores, enfim, procurando tratá-los como gostariam de ser tratados.

Muitos de vocês dizem: "Somos tantos na Terra que Deus não pode nos ver a todos.". Escutem bem isso, meus amigos: quando estão no alto da montanha, não abrangem com o olhar os milhões de grãos de areia que a circundam? Pois bem! Deus observa a todos do mesmo modo. Ele deixa que usem o livre-arbítrio, assim como vocês deixam os grãos de areia se moverem ao sabor do vento que os dispersa. A diferença é que Deus, em Sua misericórdia infinita, colocou, no fundo do coração de vocês, uma sentinela vigilante que se chama consciência. Escutem-na, porque ela somente dará bons conselhos. Às vezes, conseguem entorpecê-la, deixando que o espírito do mal se manifeste; então, ela se cala. Mas fiquem certos de que ela se fará ouvir novamente, tão logo perceba em vocês o primeiro sinal de arrependimento. Escutem e questionem sua consciência, pois ela sempre terá bons conselhos para confortá-los.

Meus amigos, a cada novo regimento, o general confia uma bandeira. Eu trago a minha através desse ensinamento do Cristo: "Amem-se uns aos outros.". Pratiquem e reúnam-se em torno desse ensinamento e receberão como retorno a felicidade e a consolação.


A Beneficência
Adolpho, Bispo de Alger - Bordeaux, 1861.


11. A beneficência, meus amigos, dará a vocês as mais puras e as mais belas alegrias do coração, dessas que nunca são perturbadas, nem pelo remorso, nem pela indiferença. Se pudessem compreender tudo o que existe de grande e doce na generosidade das almas que são belas. Essas almas pensam primeiro no próximo, para só depois pensarem em si mesmas. Elas sentem-se felizes em despir a roupa para cobrir o próximo. Se pudessem ter apenas  a doce ocupação de fazer os outros felizes! Que festas, na Terra, poderiam ser comparadas à alegria de serem representantes da Divindade, levando contentamento a essas pobres famílias que da vida só conhecem as dificuldades e as amarguras. Quando virem a face desses miseráveis, com seus filhos pequenos, se iluminarem de esperança, pois a instantes não tinham pão e ouviam seus filhinhos gritando, repetidamente, a chorar, estas palavras: "Estou com fome!", grito esse que penetrava como agudo punhal nos corações maternos.

Aí, então, compreenderão, como sentem-se felizes as pessoas que trazem alegria, onde momentos atrás só existia desespero! Compreenderam agora quais são as obrigações para com seus irmãos? Vão! Vão de encontro ao infortúnio. Vão, meus bem-amados, e recordem as palavras do Salvador: "Quando vestirem a um desses pequeninos, lembrem-se que é a Mim que estarão vestindo!".

Caridade! Palavra sublime que reúne todas as virtudes, sua tarefa é conduzir os povos à felicidade! Quem a praticar, terá prazeres infinitos no futuro e, durante o período em que estiverem encarnados na Terra, terão na caridade a consolação. Ela antecipará as alegrias que irão desfrutar mais tarde, quando estiverem todos reunidos junto ao Deus de amor. Foi a caridade, essa virtude divina, que me proporcionou os únicos momentos de alegria que tive na Terra. Que os amigos encarnados me acreditem: é na caridade que devem procurar a paz do coração, o contentamento da alma, o remédio contra as aflições da vida. Quando estiverem a ponto de acusar Deus, olhem para baixo e verão quantas misérias a aliviar, quantas crianças sem famílias, quantos velhos desamparados, sem uma mão amiga para fechar seus olhos na hora da morte. Quanto bem a ser feito! Não lamentem, pelo contrário, agradeçam a Deus. Distribuam, à vontade, sua simpatia, seu amor, seu dinheiro, a todos que, desprovidos dos bens terrenos, se enfraquecem no sofrimento e na solidão. Assim, colherão, aqui na Terra, muitas alegrias e, mais tarde... somente Deus o sabe!


São Vicente de Paulo - Paris, 1858.


12. Sejam bons e caridosos e terão em suas mãos a chave para entrar no Céu. Toda felicidade eterna está contida neste ensinamento de Jesus: Amem-se uns aos outros. É somente pelo devotamento ao próximo que a alma pode elevar-se a regiões espirituais superiores. Ela apenas encontrará felicidade e consolação na prática da caridade. Sejam bons, amparem seus irmão, deixem de lado a terrível chaga do egoísmo e trabalhem com o objetivo de abrir o caminho para a felicidade eterna. Quem já não se sentiu alegre, com o coração batendo mais forte, ao ouvir o relato de uma boa boa ação, de uma obra verdadeiramente caridosa? Se procurarem apenas o prazer que proporciona uma boa ação, estarão sempre no caminho do progresso espiritual. Exemplos não faltam. A boa vontade é que é rara de ser encontrada. Observem que a história sempre guarda lembranças de amor e respeito por uma multidão de homens de bem.

O Cristo ensinou tudo sobre as virtudes da caridade e do amor. Por que deixar de lado os Seus Divinos ensinamentos? Por que fechar os olhos e os ouvidos às Suas Divinas palavras, e o coração às Suas bondosas recomendações? Eu gostaria que dispensassem mais interesse, mais fé às leituras evangélicas. No entando, desprezam o Evangelho, fazendo dele uma palavra vazia, uma carta fechada; deixam esse admirável código moral entregue ao esquecimento. Seus males provêm apenas do abandono, voluntário, a esse resumo das Leis divinas. SLeiam essas páginas que mostram todo o devotamento de Jesus; meditem sobre elas e, certamente, aprenderão muito.

Homens fortes, preparem-se. Homens fracos, façam da doçura e da fé suas ferramentas. Sejam mais convincentes e constantes na propagação da Doutrina espírita. Deus permite que nos manifestemos a vocês apenas para encorajar w estimular o zelo e as virtudes que já possuem. Mas, se cada um o quisesse, bastaria a sua própria vontade e a ajuda de Deus; as manifestações espíritas são necessárias especialmente para os que possuem os olhos fechados e os corações impacientes.

A caridade é a virtude fundamental que deve sustentar todas as virtudes terrenas, pois sem ela as outras não existem. Sem a caridade, não existe esperança de um futuro melhor, nem interesse moral que nos sirva de guia. Sem a caridade, a fé desapareceria, pois a fé é apenas um raio de luz que faz brilhar uma alma caridosa.

A caridade é âncora eterna da salvação em todos os mundos. É a mais pura emanação do próprio Criador. É a virtude mais elevada que Ele nos oferece. Como desprezar e expulsar esse sentimento puramente Divino? Qual seria o filho bastante mau para para se revoltar contra esse doce carinho, a caridade?

Não ouso falar do que fiz, porque os Espíritos também são modestos em relação às suas obras. Mas acredito naquela que comecei como uma das que maus deve contribuir para o alívio de nossos semelhantes. Vejo, com frequência, os Espíritos pedirem, como missão, continuar minha tarefa. Eu as vejo, minhas queridas e bondosas irmãs, em sua missão Divina, praticando a virtude que eu recomendei, sentindo toda alegria que proporciona essa existência de devotamento e sacrifício. É uma grande alegria, para mim, ver o quanto o caráter de vocês é de boa e forte vontade, unam-se para continuar a obra de propagar a caridade. No próprio exercício dessa virtude, encontrarão a recompensa, pois não existe alegria espiritual que ela não proporcione já na vida presente. Sejam unidos, amem-se uns aos outros, conforme os ensinamentos do Cristo. Que assim seja!


Cáritas, Martirizada em Roma - Lyon, 1861.


13. Meu nome é Caridade, eu sou o caminho principal que conduz a Deus. Sigam-me, pois sou o objetivo a que todos devem visar. 

Fiz, esta manhã, minha caminhada habitual, e digo-lhes com o coração aflito: Meus amigos, quanta miséria, quantas lágrimas e quanto trabalho a realizar para secá-las! Procurei, em vão, consolar as pobres mães, dizendo-lhes ao ouvido: Coragem! Existem corações bondosos a protegê-las, não ficarão abandonadas. Paciência! Deus está aqui, e vocês são suas amadas, suas eleitas. Elas pareciam me ouvir e voltavam para mim seus olhos arregalados e distantes. Eu via, em suas expressões, que o corpo estava com fome, e se minhas palavras tranquilizavam um pouco seus corações, elas não lhes saciavam o estômago.

Então, eu repetia: Coragem! Coragem! E uma pobre mãe, bem jovem, que amamentava uma criancinha, tomou-a em seus braços e estendeu-a no espaço vazio, como a me pedir para que protegesse aquele pequeno ser, que encontrava alimento insuficiente, num seio quase sem leite.

Mais adiante, meus amigos, vi pobres velhos sem trabalho e também sem abrigo, atormentados pela necessidade e envergonhados de sua miséria. Não tinham sequer coragem para pedir esmola aos que passavam, pois que nunca mendigaram. eu, que nada tenho, com o coração tomado de compaixão, me fiz mendiga para eles e vou por toda parte estimular a beneficência, inspirar bons pensamentos aos corações generosos e sensíveis. Por isso, venho até aqui dizer: existem, por aí, infelizes, em cujos casebres não têm pão para comer, não têm fogo no fogão e não têm cobertor em sua cama. Não digo o que é preciso fazer. Deixo que seus bons corações tomem a iniciativa. Se dissesse como devem proceder, suas boas ações não teriam mérito. Eu apenas digo: Sou a Caridade e estendo as mãos pelos irmãos sofredores.

Mas, se peço, também dou, e dou muito. Eu convido a todos para um grande banquete e forneço a árvore onde irão se saciar! Vejam como é bela, como está carregada de flores e frutos! Venham, peguem todos os frutos dessa bela árvore que se chama beneficência. No lugar dos ramos que arrancarem, colocarei todas as boas ações que fizeram e levarei até Deus, para que Ele a carregue de novo, pois a beneficência é inesgotável. Sigam-me, meus amigos, a fim de que eu possa colocá-los entre aqueles que seguem a minha bandeiro. Não tenham medo, eu vou conduzi-los pelo caminho da salvação, pois sou a Caridade.


Cáritas - Lyon, 1861.


14. Muitos acham que fazer a caridade é somente dar esmola, mas, na verdade, ela pode ser praticada de muitas outras maneiras. Entre a esmola e a caridade existe uma diferença muito grande. A esmola, meus amigos, às vezes, pode ser útil, pois dá alívio aos pobre, mas é quase sempre humilhante, tanto para quem dá, quanto para quem a recebe. A caridade, ao contrário, liga o benfeitor aos beneficiado e, além disso, sabe disfarçar de várias maneiras! Pode-se praticar a caridade entre colegas, amigos e familiares, tolerando-se uns aos outros, perdoando-se mutuamente as fraquezas, cuidando para não ferir o amor-próprio de ninguém. Os Espíritas podem ser caridosos para com aqueles que não pensam como eles, levando os menos esclarecidos a crer, mas sempre tomando o cuidado para não afrontar as suas convicções, conduzindo-os amigavelmente às reuniões, onde eles poderão nos ouvir e onde saberemos encontrar a brecha que nos permitirá entrar em seus corações. Eis, também, uma das formas de praticar a caridade.

Escutem agora o que é a caridade para com os pobres, esses esquecidos da Terra, mas recompensados por Deus, que saberão aceitar suas próprias misérias sem reclamar, dependendo da ajuda que receberem de vocês. Vou esclarecer com um exemplo.

Observo, algumas vezes na semana, uma reunião de senhoras de todas as idades, que, para nós, como sabem, são todas irmãs. Elas trabalham muito rápido e seus dedos são ágeis. Vejo também como seus semblantes estão radiantes e como seus corações vibram todos juntos! Mas qual é o objetivo delas? É que elas sabem que o inverno se aproxima e será rude para com as famílias carentes. As pobres mães se preocupam e choram pensando nos filhinhos que sentirão frio e fome! Tenham paciência, minhas irmãs! Deus inspirou aquelas que são mais afortunadas. Elas estão reunidas e confeccionando roupas. Quando o frio chegar, irão se lamentar dizendo: "Deus não é justo", expressão que sempre utilizam nos períodos de sofrimento. Aí, então, verão aparecer em suas casas um dos filhos dessas boas trabalhadoras, que se tornaram operárias dos pobres. Sim, era para vocês que elas trabalhavam tanto, e suas lamentações se transformarão em bênçãos, porque, no coração dos infelizes, o amor caminha muito próximo do ódio.

Como todas essas trabalhadoras necessitam de um estímulo, as comunicações dos bons espíritos lhes chegam de todos os lados. Os homens que fazem parte dessa sociedade trazem, também, sua ajuda, fazendo leituras agradáveis. E nós, para recompensar o esforço de todos e de cada um em particular, prometemos a essas laboriosas trabalhadoras uma boa clientela, que lhes pagará à vista, em bênçãos, a única moeda que tem valor nos Céus. Asseguramos, ainda, e sem medo de errar, que essas bênçãos jamais lhes faltarão.


Um Espírito Protetor - Lyon, 1861.


15. Meus caros amigos, a cada dia, ouço quando dizem: "Sou pobre, não posso fazer a caridade", e todos os dias vejo muitos não perdoarem seus semelhantes. Além de não perdoarem nada, ainda se colocam como juízes severos. Certamente não gostariam de ser tratados da mesma maneira. O perdão também não é caridade? Aqueles que puderem fazer somente a caridade através do perdão, façam pelo menos essa, mas façam em grande quantidade. Em relação à caridade material, vou lhes contar uma história do outro mundo.

Dois homens acabam de morrer e Deus havia dito: "Enquanto esses dois homens viverem, suas boas ações serão colocadas em sacos separados, para que sejam pesados após sua morte". Quando ambos chegaram aos últimos momentos de suas vidas, Deus mandou trazer os dois sacos. Um estava pesado, grande, bem cheio, e nele ressoava o metal que o enchia. O outro era tão pequeno e fino, que se viam através do pano as poucas moedas que continha. Cada um dos homens reconheceu seu saco: "Eis o meu, disse o primeiro, posso reconhecê-lo, fui rico e dei muito". "Eis o meu, disse o outro, sempre fui pobre e não tinha quase nada para repartir". Mas que surpresa! Quando os dois sacos foram colocados na balança, o maior tornou-se leve e o menor ficou pesado, tanto que elevou muito o outro prato da balança. Então Deus disse ao rico: "Você deu muito, é verdade, mas deu por ostentação e para ver seu nome figurar em todos os templos do orgulho. Além disso, ao dar você não se privou de nada. Vai para a esquerda e fica satisfeito pelo fato de suas esmolas ainda lhe servirem para alguma coisa". Depois disse ao pobre: "Você deu pouco, meu amigo, mas cada uma das moedas que estão ma balança lhe representou uma privação. Se não deu esmola, fez a caridade, e, o que é melhor, fez naturalmente, sem pensar que a levariam em conta. Foi tolerante e não julgou seu semelhante, pelo contrário, encontrou desculpa para todas as más ações que eles cometeram. Passa à direita e vai receber sua recompensa".


João - Bordeaux, 1861.


16. A mulher rica, feliz, que não precisa empregar seu tempo com os trabalhos de casa, pode dedicar algumas horas em benefício de seus semelhantes. Com o que sobra de seus gastos com o supérfluo, compre agasalho para os infelizes que não têm o que vestir. Com suas mãos delicadas, confeccione roupas simples, porém, aconchegantes para ajudar a pobre mãe a vestir o filho que vai nascer. Se por causa disso seu filho ficar sem alguns enfeites de renda, o do pobre, além de não ficar esquecido, também estará agasalhado. Trabalhar para os pobres é trabalhar na seara do Senhor.

E você, pobre trabalhadora, que não dispõe de sobras, mas que por amor aos seus irmãos também quer ajudá-los dando um pouco do que possui, dedica a eles algumas horas do seu tempo, que é o seu único tesouro. Faça alguns trabalhos delicados e chamem a atenção dos mais afortunados; venda o produto do seu esforço e também poderá contribuir com aqueles irmãos mais necessitados. Você terá, com isso, algumas horas de repouso a menos, mas dará sapatos aos que andam com os pés descalços.

E vocês, mulheres devotadas a Deus, trabalhem também para as obras dedicadas à caridade. Que esses trabalhos dispendiosos não sirvam apenas para enfeitar suas capelas e chamar atenção sobre a habilidade e a paciência que possuem. Trabalhem, minhas filhas, e que o produto desse trabalho seja destinado ao socorro dos pobres, que também são filhos de Deus. Trabalhar pelo pobres é glorificar a Deus. Sejam para eles a voz da Providência que diz: "Para as aves do céu, Deus dá o alimento". Que o dinheiro ganho se transforme em roupas e alimentos aos necessitados. Façam isso e seus trabalhos serão abençoados.

Todos que podem de alguma forma contribuir, que o façam. Ajudem oferecendo o talento, a inspiração, o coração, e Deus vai abençoá-los. Poetas e literatos, que são lidos pelas pessoas da sociedade, satisfaçam seus lazeres, mas dediquem o produto de algumas obras ao consolo dos infelizes. Pintores, escultores e artistas em geral, que suas inteligências também ajudem seus irmãos; isto aliviará o sofrimento de muitos e a glória que possuem não será diminuída em nada.

Todos podem dar algo. Qualquer que seja a classe a que pertençam, sempre existirá alguma coisa que podem dividir. Das coisas que receberam de Deus, uma parcela deve ser dada aos que não têm o necessário, pois no lugar deles também ficariam felizes em receber essa parcela. Seus tesouros na Terra ficarão um pouco menores, mas, em compensação, os do Céu ficarão bem maiores. Assim, no Mundo Espiritual, irão colher cem vezes mais o que tiverem semeado em benefícios aqui na Terra.

A Piedade
Michel - Bordeaux, 1862.


17. A piedade é uma virtude que mais aproxima os homens dos anjos, pois ela é a irmã da caridade que vai conduzi-los a Deus. Deixem que o coração de vocês se comova diante das misérias e dos sofrimentos dos seus semelhantes. As lágrimas que derramaram por esses infelizes são como um bálsamo que aplicam sobre suas feridas. Quando conseguem proporcionar a esses miseráveis um pouco de esperança e consolo, eu imagino que alegria vocês devem experimentar! É bem verdade que essa alegria tem um certo amargor, pois nasce ao lado da infelicidade. Se essa alegria não possui o forte  sabor dos prazeres terrenos, também, não possui as decepções do vazio que esses mesmos prazeres trazem consigo, pelo contrário, ela possui uma suavidade penetrante que envolve a alma.

A piedade, quando profundamente sentida, é amor. O amor é devotamento. E o devotamento é o esquecimento de si mesmo. Esse esquecimento, essa renúncia e, favor dos infelizes, é a virtude em seu mais lato grau. A mesma que Jesus praticou durante Sua vida e que ensinou em Sua Doutrina tão santa, tão sublime. Quando essa Doutrina retornar à sua pureza original e for aceita por todos os povos, a Humanidade encontrará sua felicidade, pois reinará a concórdia, a paz e o amor.

A piedade é o sentimento que mais faz os homens progredirem, pois ao dominar o orgulho e o egoísmo prepara a alma para ser humilde, fazer o bem e amar o próximo. A piedade faz com que vocês se comovam profundamente com o sofrimento alheio e estendam as mãos caridosas para auxiliar, enquanto derramam lágrimas de compaixão. Jamais escondam do coração essa emoção celeste; não façam como esses egoístas endurecidos que se afastam dos aflitos, porque a visão de suas misérias perturbaria por instantes sua alegre existência. Tenham medo de ficar indiferentes quando puderem ser úteis. A tranquilidade conseguida com Morto, que esconde, no fundo de suas águas, o lodo apodrecido e a corrupção.

A piedade ainda está longe de causar a perturbação e o aborrecimento de que o egoísta sente medo! Quando a alma entra em contato com a desgraça do próximo, ela sofre um abalo natural e profundo, que faz vibrar todo o ser e o comove profundamente. A compensação sempre será grande quando conseguirem devolver a coragem e a esperança a um irmão infeliz, que se emociona ao aperto de uma mão amiga. Seu olhar, emocionado e reconhecido, em lágrimas, volta-se para vocês antes de se elevar ao Céu, em agradecimento por ele ter enviado um consolador, um amigo. A piedade tem compaixão pelos males alheios e se manifesta antes da caridade, que é a primeira das virtudes. A piedade, sendo irmã da caridade, prepara e enobrece os benefícios que irão colher mais adiante.


Os Órfãos
Um Espírito Família - Paris, 1860.


18. Meus irmãos, amem os órfãos. Se soubessem o quanto é triste estar só e abandonado, principalmente na infância! Deus permite que existam órfãos para que nos encorajemos a lhes servir de pais. Que Divina caridade é ajudar uma pobre criancinha abandonada, evitar que ela sofra fome e frio, orientar sua alma para que ela não se perca no vício! Aqueles que amparam uma criança abandonada são agradáveis a Deus, porque compreendem e praticam a Sua Lei. Lembrem-se também que, muitas vezes, a criança que agora socorrem pode ter sido alguém muito querido a vocês em uma encarnação anterior, e, caso pudessem recordar, a adoção não seria mais um ato de caridade e sim um dever. Assim, meus amigos, todo aquele que sofre é irmão de vocês e tem direito à caridade que puderem oferecer. Não aquela caridade que fere o coração, não  aquela esmola que queima a mão de quem a recebe, pois suas esmolas são frequentemente bem amargas! Quantas vezes seriam recusadas, se em casa a doença e a miséria não precisassem delas! Deem delicadamente, acrescentando ao benefício o bem mais precioso de todos: uma palavra de incentivo, uma carícia, um sorriso amigo. Evitem esse ar de proteção que machuca o coração já aflito; saibam que, ao fazer o bem, estão trabalhando para vocês mesmos e para os seus.


Benefícios Pagos Com Ingratidão
Um Gua Protetor - Sens, 1862.


19. O que pensar das pessoas que, recebendo a ingratidão como pagamento por um benefício prestado, deixam de fazer o bem com receio de encontrar outras pessoas ingratas?

Essas pessoas são mais egoístas do que caridosas, pois fazer o bem esperando reconhecimento não é fazê-lo com desinteresse. O benefício desinteressado é o único que agrada a Deus. São também pessoas orgulhosas, pois se comprazem na humildade com que o beneficiado vem agradecer, a seus pés, o benefício recebido. Quem procura na Terra a recompensa pelo bem que faz, não irá recebê-la no Céu. Deus só recompensará aquele que não procurou na Terra o reconhecimento pelos bens que praticou.

É necessário sempre ajudar os fracos, mesmo sabendo que eles não nos agradecerão. Se aquele que é ajudado esquece o benefício recebido, Deus os recompensará mais do que seriam recompensados pela gratidão do beneficiado. Se Deus permite que, às vezes, vocês sejam pagos com a ingratidão, é para experimentar a perseverança que devem ter em praticar o bem.

Como podem saber se o benefício, esquecido no momento, não trará bons frutos mais tarde? Fiquem certos de que e uma semente que com o tempo germinará. Infelizmente, vê-se apenas o presente. Trabalhe para vocês e não pelos outros. Os benefícios abrandam o coração mais endurecido. Ele pode até aquecer os favores recebidos aqui na Terra, mas quando o Espírito retornar ao Mundo Espiritual ele se lembrará, e essa lembrança será para ele um castigo. Ele, então, lamentará a sua ingratidão e desejará reparar sua falta, pagar sua dívida em uma outra existência, e, muitas vezes, aceitando uma vida de devotamento ao seu benfeitor. É assim que, sem suspeitarem, terão contribuído para o adiantamento moral desse Espírito, e reconhecerão, mais tarde, toda a verdade deste ensinamento: um benefício jamais se perde. Além disso, também terão trabalhado por vocês mesmos, pois possuirão o mérito de terem praticado o bem com desinteresse, não deixando se abater pelas decepções.

Meus amigos, se vocês conhecessem todos os laços que ligam a vida presente às existências anteriores; se pudessem entender o grande número de relações que unem os seres uns aos outros, para que eles possam progredir juntos, admirariam ainda mais a sabedoria e a bondade do Criador, que nos permite reviver para chegar até Ele.


Beneficência Exclusiva
São Luís - Paris, 1860.


20. É correta a beneficência quando praticada exclusivamente entre pessoas de uma mesma opinião, de uma mesma crença, ou de um mesmo partido?

Não, pois é justamente o espírito de grupo, de seita e de partido que é preciso abolir, uma vez que todos os homens são irmãos. O verdadeiro cristão vê irmãos em todos os seus semelhantes e, quando socorre aquele que está  necessitado, não pergunta qual sua crença, qual sua opinião, seja sobre o que for. Quem rejeita um infeliz por ele ter uma crença diferente da sua, não está sendo um verdadeiro cristão, e muito menos seguindo o ensinamento do Cristo que diz para amar até mesmo os inimigos. Portanto, socorram sem interrogar sua consciência, porque se ele for um inimigo da religião, será um meio de fazer com que ele goste dela. Repelindo-o, poderão fazer com que ele a odeie.


Comentários


5. Óbulo - É o mesmo que esmola.

Gazofilácio - Era o nome dado à caixa de esmolas que ficava na entrada dos templos.

7. Feliz daquele que comer o pão no Reino de Deus - Ou seja, feliz daquele que receber e aceitar os ensinamentos que Jesus veio trazer em nome de Deus.

11. Beneficência - É o mesmo que praticar o bem, ou seja, fazer um benefício a alguém.

17. Mar Morto - É um lago que fica na Palestina, onde deságua o rio Jordão. Devido à grande quantidade de sal em suas águas, a vida é praticamente impossível. Por isso o nome de mar Morto, ou seja, sem vida.

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